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São Paulo, quinta-feira, 17 de abril de 2003

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TENDÊNCIAS/DEBATES

A formação do trabalhador

EDEVALDO ALVES DA SILVA

Sempre tive em mente que seria difícil ao Brasil fazer deslanchar o seu processo de crescimento econômico e social com um quadro precário de recursos humanos empregados em suas diferentes atividades econômicas. Essa é a razão básica do meu envolvimento com a educação há mais de 35 anos.
Não é confortável a nossa posição no concerto internacional, pois temos um nível extremamente baixo de escolarização, cerca de quatro anos e meio, sendo que nas nações industrializadas ou pós-industrializadas os trabalhadores têm de oito a dez anos de escolarização.
É claro que a competitividade se torna desigual. Isso levou um grupo de dirigentes do UniFMU, com a superior preocupação de servir ao país neste momento histórico de mudanças, a repensar criticamente a missão da instituição universitária. Por que o hiato entre os seus objetivos e as carências assinaladas na educação de jovens e adultos?
O nosso propósito, de forma original, tornou-se claro: promover essa aproximação como instrumento precioso de justiça social. Cedemos um prédio inteiro da avenida da Liberdade para o que convencionamos chamar de educação para a solidariedade. De pés no chão, mas de cabeça erguida, lançamos, com sucesso imediato, cursos de alfabetização (da primeira à quarta série), aceleração da escolaridade (quinta à oitava série e ensino médio), orientação para o primeiro emprego (na faixa de 16 a 24 anos de idade, a taxa de desemprego é de quase 18%; temos 4,2 milhões de jovens, segundo dados oficiais, desocupados, sendo que milhões deles fora da escola), oficinas profissionalizantes e de cidadania e apoio pedagógico, de grande alcance comunitário, a jovens deficientes de audiocomunicacão, além de outros cursos de educação continuada em todos os níveis.
Quem pensa que pode resolver tudo numa "canetada" evidentemente comete um grande equívoco de avaliação. Só mesmo parcerias inteligentes, valorizando o conceito de educação para a solidariedade, podem almejar êxito em sua missão. Juntos, conseguiremos tudo. Isolados, quase nada. Quando soubemos que a Força Sindical, por intermédio da grande liderança do presidente Paulo Pereira da Silva, estava desenvolvendo um programa de levantamento das necessidades de emprego da massa trabalhadora de São Paulo, procuramos conhecer de perto essa benemérita ação.


Quem pensa que pode resolver tudo numa "canetada" comete um grande equívoco de avaliação


No Palácio do Trabalhador, no bairro da Liberdade, foi montado todo um sistema informatizado de busca de empregos. É verdadeiramente impressionante o que ali se passa diariamente: em 400 computadores de última geração, registram-se 5.000 pedidos de emprego -repito, todo dia-, para o sucesso de apenas 10% desse total.
Quando perguntei ao presidente da Força Sindical a razão do número relativamente baixo de aproveitamento, a sua resposta deixou-me intrigado: primeiro, são pessoas de pouca qualificação profissional; segundo, a faixa etária é muito alta, desanimando os eventuais empregadores. Foi então que decidimos pelo pacto, que hoje repercute no Brasil inteiro. Vamos criar condições objetivas não para que a instituição universitária desça aos níveis mais baixos, mas para que, democraticamente, os desfavorecidos pedagógicos possam ter acesso à alfabetização e aos seus desdobramentos, como é preocupação reiterada do ministro Cristovam Buarque. Ele proclamou que não se contentará com a simples alfabetização de jovens e adultos em cursos de três ou seis meses de duração. O que mais deseja é que esses alunos continuem no processo, com a convicção, proclamada pela Unesco, de que a aprendizagem é para toda a vida.
Proporcionar esse benefício é um gesto de solidariedade e respeito humano a todos os cidadãos brasileiros. É o que estamos fazendo concretamente com o convênio UniFMU/Força Sindical. Não se trata de uma promessa de efeito vago. Já se encontram matriculados no projeto nada menos de 850 jovens e adultos e as suas aulas, com muita emoção por parte dos professores, foram iniciadas.
É impressionante, mesmo para espíritos mais calejados na peleja pedagógica, a reação dos alunos. Parece que eles não acreditam no que vêem. Estão aprendendo com muito entusiasmo, garantindo desde os primeiros momentos o sucesso absoluto dessa iniciativa pioneira.
Isso será feito apenas em São Paulo? A resposta é negativa, pois tudo poderá ser levado a outros Estados, como faremos brevemente em Brasília, com o UNICeub. Esperamos que haja interesse e uma boa dose de patriotismo dos futuros parceiros. A Força Sindical, com os seus 16 milhões de filiados, revela um novo empenho pela idéia generosa do sindicato-cidadão. Está voltada para a generalização desse atendimento e contará sempre com a nossa cooperação.
A sociedade brasileira, definitivamente, não concorda com o que representa a falta de emprego ou mesmo o cruel desemprego que abala os alicerces de boa parte das nossas famílias. A iniciativa privada não pode assistir impassível a essa descida para o poço, como se isso fosse inexorável. Não é. Devemos esse tipo de colaboração ao novo governo, ao qual juntamos as nossas virtualidades para uma ação conjunta de resultados a curto prazo.
Queremos, não apenas em nossas instituições universitárias, mas de maneira geral, que os jovens brasileiros tenham o melhor e mais amplo acesso aos procedimentos de uma educação de qualidade. Isso não pode ser privilégio de poucos, mas um direito fundamental da cidadania. Foi o que levou, com muito orgulho, à nossa parceria com a Força Sindical. Agora, é só esperar pelos resultados.

Edevaldo Alves da Silva, 69, advogado e professor, é presidente das instituições UniFMU, UniFiamFaam e Fisp e da Fundação Edevaldo Alves da Silva.


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