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CLÓVIS ROSSI
França (quase) se curva ao Brasil
PARIS - Depois de 50 dias de confinamento por conta de uma cirurgia
de quadril ("vecchiaia è bruta", já
dizia a nonna), sair direto para Paris
é ainda mais agradável, mas, ao
mesmo tempo, chocante.
Para começar, passei na frente de
todo mundo no embarque, apoiado
na bengala que me colocava na condição de "passageiro com dificuldade de locomoção", os primeiros a
embarcar. Engraçado e também
humilhante. Quase disse aos atendentes que não sou passageiro com
dificuldade de locomoção. Só estou
nessa condição, espero.
Depois, você cai na primavera européia, que costumava ser mais fria,
com a mesma temperatura do outono paulista, que também não costumava ser tão quente.
Sair de um Brasil em que a discussão política oscila entre inexistente e indigente para cair na campanha eleitoral para a Presidência
de quarta maior economia do mundo é também interessante. Mas
aqui também se dá um fenômeno
que Moisés Naïm, venezuelano que
edita hoje a revista "Foreign Policy", batizou adequadamente de
aceleração dos tempos, especialmente os políticos.
Discute-se tudo na campanha
francesa, mas os temas entram e
saem da agenda com formidável velocidade. Nada parece permanente,
às vezes uma semana pode ser longo prazo.
A campanha começou (haja paciência) com o bordão das tais "reformas", o que me parece muito
mais uma muleta retórica de quem
não sabe bem o que fazer com um
país, desenvolvido ou não.
Cá, como aí, as "reformas" são essencialmente as mesmas (da previdência, da legislação trabalhista,
tributária). Mas, logo, as reformas
caíram da agenda para dar lugar a
outros temas que logo somem também. A fase mais recente é dos xingamentos e das falsas questões. Como no Brasil. Só que eles estão com
a vida ganha e podem dar-se ao luxo
de andar em círculos.
crossi@uol.com.br
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