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RUY CASTRO
Brasil "nouveau-riche"
RIO DE JANEIRO - A história se
repete. Em 1927, logo que a Warner
lançou "O Cantor de Jazz", o primeiro filme "falado" -na verdade,
um filme 90% silencioso, com umas
poucas sequências cantadas por Al
Jolson-, os outros estúdios correram para aplicar algum som a seus
filmes mudos e se beneficiar da onda. Somente em 1930, com o musical "Melodia da Broadway", surgiram os filmes 100% sonoros.
Agora, com o 3D, dá-se a mesma
coisa. Por causa do sucesso de "Avatar" (que ainda não me dei à pachorra de prestigiar), os estúdios
disputam para ver quem converte
mais filmes comuns, em 2D, para a
nova tecnologia -um desses o "Alice", de Tim Burton. Pelo que ouvi
dizer, a conversão é pífia: a imagem
é opaca, o fundo, chapado, e os atores, perseguidos por "fantasmas",
como as das TVs antigas. Em comum com o 3D de verdade, só as
dores de cabeça e a náusea.
Mas o cinema não passa de um
boi de piranha nesse processo. O
que interessa à indústria não é o sucesso desse ou daquele filme, mas
difundir o 3D em função da televisão -dos novos aparelhos que logo
tomarão o mercado, tornando insuportável a vida de quem não tiver
um. Como aconteceu quando chegou a TV em cores, rebaixando para
a segunda divisão os proprietários
de aparelhos em preto e branco.
Tomei um táxi outro dia -o motorista e sua esposa já estão economizando para comprar uma TV 3D,
e só lamentam que a próxima Copa
do Mundo ainda será vista na reles,
ultrapassada tela plana. O Brasil
"nouveau-riche" não se contém e
não sossegará enquanto não se
transformar numa imensa Casas
Bahia.
Historicamente atrasado alguns
anos em relação à tecnologia, não
estou com a menor pressa para ver
ou ter uma TV 3D. A vida real sempre foi em 3D, e o ser humano nunca passou de bidimensional.
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