São Paulo, terça-feira, 17 de maio de 2005

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OCUPAÇÃO DA MÁQUINA

Dois anos depois de o PT conquistar a Presidência da República, a contribuição obrigatória proveniente de seus filiados cresceu mais de sete vezes. As contas relativas a 2004, apresentadas pela legenda ao Tribunal Superior Eleitoral, mostram que essa modalidade de arrecadação atingiu R$ 3,32 milhões no ano passado, contra R$ 341 mil em 2002. Considerada a inflação do período, o aumento foi de 730% -e seria maior, caso os números levassem em conta a parcela extraída dos parlamentares petistas, que é contabilizada separadamente.
O "dízimo", como é conhecida a contribuição obrigatória, foi adotado pelo PT já em seu início, com o intuito de arrecadar fundos para a construção do partido. O sistema é progressivo, estipulando quantias maiores para os que ganham salários mais elevados.
O extraordinário crescimento dos recursos provenientes do "dízimo" indica uma considerável elevação do número de militantes petistas empregados na máquina pública. É natural que partidos políticos alojem seus quadros em posições relevantes do Estado quando chegam ao poder. Num país como o Brasil, no entanto, que se ressente de uma burocracia pública mais organizada e estável, esse processo não raro resvala para o empreguismo e o "aparelhamento" da estrutura governamental.
No que tange ao PT, este último processo é o que mais tem despertado críticas. Há uma percepção generalizada de que o partido adotou uma estratégia de ocupação maciça de postos na máquina pública. Residem nisso, aliás, alguns dos problemas que abalam as relações entre o Executivo e a chamada base aliada. Embora conte com menos de 20% dos votos no Legislativo federal, o PT, segundo estimativas de políticos ligados ao próprio governo, contaria com cerca de 80% dos cargos com efetivo poder decisório.
Esse condenável processo de politização da máquina estatal contraria os bons princípios republicanos e tende a se revelar nocivo ao bom desempenho técnico do setor público.


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