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ANTONIO DELFIM NETTO
O desastre
UMA FORMA prática de medir a evolução da economia
é avaliar a variação anual do
PIB em cada trimestre, comparando com o do trimestre homólogo
do ano anterior. Se compararmos o
PIB do 1º trimestre de 2009 com o
do 1º trimestre de 2008, teremos
uma estimativa do crescimento
anual do PIB no período. Em 9 de
junho, o IBGE divulgou as seguintes taxas de crescimento para o PIB
brasileiro nos últimos trimestres.
Entre o 3º trimestre de 2008 e o
1º trimestre de 2009 (seis meses),
houve uma redução do PIB físico
da ordem de 4,5%, produzida pela
morte súbita do crédito interbancário no Brasil, importada dos EUA
em setembro depois da liquidação
do banco de investimento Lehman
Brothers. Não deixa de ser estranho que um país cujo sistema financeiro é razoavelmente hígido e
relativamente fechado tenha sofrido um ajuste de tal magnitude.
É fato que poderíamos ter feito
um esforço fiscal um pouco melhor, postergando os compromissos com as despesas de custeio e
dando maior suporte ao investimento, uma vez que o funcionalismo, ao contrário do trabalhador
comum, está absolutamente protegido do estresse da recessão.
O que andou mal foi a política
monetária, que, a despeito de estar
na direção correta, foi sempre atrasada e sempre inferior à capacidade do Banco Central de dar conforto ao sistema bancário. Esse é um
mistério que ainda está para ser esclarecido. O Banco Central sabia
em setembro de 2008 que, para
restabelecer o crédito interbancário e reduzir a dramática queda do
setor real da economia, tinha que
executar as medidas que tardiamente estão sendo tomadas em
junho de 2009.
A queda do PIB entre o 1º trimestre de 2009 e o 4º de 2008 foi menor do que os mais otimistas imaginavam. O 2º trimestre, que está
terminando, parece ter sido ligeiramente melhor e registrará, talvez, um pequeno crescimento em
relação ao 1º. Restam seis meses
para melhorar nossa performance.
Supondo (não "prevendo") um
crescimento de cada trimestre sobre o anterior de 0,5% no 2º trimestre, 1,2% no terceiro e 1% daí
em diante (o que não parece um
absurdo), terminaremos 2009 com
uma queda em torno de 1%.
Nada está dado: um esforço
maior no 3º trimestre poderá nos
aproximar do terreno positivo. A
boa notícia é que já poderemos estar crescendo entre 3,5% a 4% ao
ano no segundo trimestre de 2010.
contatodelfimnetto@uol.com.br
ANTONIO DELFIM NETTO escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
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