São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
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MERCOSUL SOZINHO

Como se já não bastassem os atritos crescentes entre o Brasil e a Argentina, o Mercosul parece hoje condenado a uma fatídica solidão. Se aos EUA a idéia de uma integração no Cone Sul sempre pareceu presunçosa, agora é a União Européia que dá sinais de que o Mercado Comum do Sul não está entre suas prioridades.
O projeto regional só não sucumbe definitivamente porque a diplomacia brasileira, ciosa de sua estratégia, vem aceitando com inquietante docilidade uma sucessão de arbitrariedades do governo argentino, a começar pelo recurso a medidas protecionistas, unilaterais, o que é um contra-senso num projeto de integração.
Sujeito a tensões internas, tanto setoriais quanto associadas a regimes de política econômica incompatíveis, o Mercosul deveria ser mais bem avaliado do ponto de vista dos seus custos para a sociedade e para as empresas brasileiras. Aliás, só o setor automotivo dá indícios de estar mais satisfeito com a integração regional. Afinal, parece que nesse caso são as grandes empresas que comandam e organizam um Mercosul à sua imagem, de acordo com seus interesses e planos estratégicos.
Sem despertar entusiasmo em Washington, mas também sem conseguir quebrar o gelo europeu, ainda mais duro depois do veto francês a um aprofundamento das negociações, o Mercosul padece, sem rumo.
O presidente FHC afirmou que o Mercosul não irá pedir favor algum à União Européia, pois "temos um direito". A questão é encontrar os foros internacionais adequados ao exercício desse direito, o que não tem sido fácil, para dizer o menos.
A força dos EUA, o abandono da âncora cambial brasileira e a fragilização crescente do modelo de conversibilidade argentino são alguns dos elementos que suscitam uma reavaliação urgente do Mercosul.
É lamentável o Itamaraty sacrificar a lógica econômica e os interesses brasileiros em nome de ideais políticos louváveis, mas de base estreita e com poucos efeitos práticos.


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