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MERCOSUL SOZINHO
Como se já não bastassem os atritos crescentes entre o Brasil e a Argentina, o Mercosul parece hoje condenado a uma fatídica solidão. Se aos
EUA a idéia de uma integração no
Cone Sul sempre pareceu presunçosa, agora é a União Européia que dá
sinais de que o Mercado Comum do
Sul não está entre suas prioridades.
O projeto regional só não sucumbe
definitivamente porque a diplomacia
brasileira, ciosa de sua estratégia,
vem aceitando com inquietante docilidade uma sucessão de arbitrariedades do governo argentino, a começar
pelo recurso a medidas protecionistas, unilaterais, o que é um contra-senso num projeto de integração.
Sujeito a tensões internas, tanto setoriais quanto associadas a regimes
de política econômica incompatíveis, o Mercosul deveria ser mais
bem avaliado do ponto de vista dos
seus custos para a sociedade e para
as empresas brasileiras. Aliás, só o
setor automotivo dá indícios de estar
mais satisfeito com a integração regional. Afinal, parece que nesse caso
são as grandes empresas que comandam e organizam um Mercosul à sua
imagem, de acordo com seus interesses e planos estratégicos.
Sem despertar entusiasmo em Washington, mas também sem conseguir quebrar o gelo europeu, ainda
mais duro depois do veto francês a
um aprofundamento das negociações, o Mercosul padece, sem rumo.
O presidente FHC afirmou que o
Mercosul não irá pedir favor algum à
União Européia, pois "temos um direito". A questão é encontrar os foros
internacionais adequados ao exercício desse direito, o que não tem sido
fácil, para dizer o menos.
A força dos EUA, o abandono da âncora cambial brasileira e a fragilização crescente do modelo de conversibilidade argentino são alguns dos
elementos que suscitam uma reavaliação urgente do Mercosul.
É lamentável o Itamaraty sacrificar a
lógica econômica e os interesses brasileiros em nome de ideais políticos
louváveis, mas de base estreita e com
poucos efeitos práticos.
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