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Sete a dois
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - No último fim-de-semana, num bar em São Paulo, foram
mortas sete pessoas. E num botequim
do Rio, no Humaitá, duas pessoas foram assassinadas. Crimes simultâneos
e mais ou menos com a mesma dinâmica.
Gostaria de ser economista numa
hora dessas. Extrairia uma teoria dos
dois eventos. E, embora a teoria fosse
furada, como todas as teorias econômicas, eu pareceria austero e bem-informado, elaborando uma equação
que o Delfim Netto e o Roberto Campos considerariam sofisticada.
São Paulo tem algo em torno de 10,
12, 14 ou 16 milhões de habitantes (os
economistas apreciam a expressão
""algo em torno de", e eu a uso com
proveito). O Rio tem menos, algo em
torno de 8 ou 10 milhões de esfalfados
moradores. Em Minas, esses habitantes ou esses moradores seriam chamados de ""almas".
A equação seria montada na seguinte base: 7 está para 16.000.000 assim
como 2 para 10.000.000. É muito zero
para minha capacidade de cálculo,
não saberia extrair a proporção exata
e provar matematicamente que Rio e
São Paulo se equivalem em matéria de
violência urbana.
Houve tempo em que os paulistas
maldiziam o Rio por causa da falta de
respeito à vida humana. Era uma forma eticamente correta de revidar a
maledicência carioca em relação a
São Paulo.
Num jantar com amigos judeus, aí
em São Paulo, fui considerado uma
espécie de Macabeu, um herói de Massada por sobreviver às balas perdidas
que ceifavam a vida dos cariocas. Cidade leviana, o Rio era a ovelha negra
da Federação.
Li dezenas de artigos dos mestres da
USP explicando a relação entre a licenciosidade das praias e a concorrência dos morros com as chacinas periódicas que envergonhavam o Brasil perante o mundo.
Quatro anos e seis meses de governo
dominado pela política de São Paulo,
o jogo parece que empatou. O tucanato paulista é democrático, dá oportunidade a todos.
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