São Paulo, Quinta-feira, 17 de Junho de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Sete a dois

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - No último fim-de-semana, num bar em São Paulo, foram mortas sete pessoas. E num botequim do Rio, no Humaitá, duas pessoas foram assassinadas. Crimes simultâneos e mais ou menos com a mesma dinâmica.
Gostaria de ser economista numa hora dessas. Extrairia uma teoria dos dois eventos. E, embora a teoria fosse furada, como todas as teorias econômicas, eu pareceria austero e bem-informado, elaborando uma equação que o Delfim Netto e o Roberto Campos considerariam sofisticada.
São Paulo tem algo em torno de 10, 12, 14 ou 16 milhões de habitantes (os economistas apreciam a expressão ""algo em torno de", e eu a uso com proveito). O Rio tem menos, algo em torno de 8 ou 10 milhões de esfalfados moradores. Em Minas, esses habitantes ou esses moradores seriam chamados de ""almas".
A equação seria montada na seguinte base: 7 está para 16.000.000 assim como 2 para 10.000.000. É muito zero para minha capacidade de cálculo, não saberia extrair a proporção exata e provar matematicamente que Rio e São Paulo se equivalem em matéria de violência urbana.
Houve tempo em que os paulistas maldiziam o Rio por causa da falta de respeito à vida humana. Era uma forma eticamente correta de revidar a maledicência carioca em relação a São Paulo.
Num jantar com amigos judeus, aí em São Paulo, fui considerado uma espécie de Macabeu, um herói de Massada por sobreviver às balas perdidas que ceifavam a vida dos cariocas. Cidade leviana, o Rio era a ovelha negra da Federação.
Li dezenas de artigos dos mestres da USP explicando a relação entre a licenciosidade das praias e a concorrência dos morros com as chacinas periódicas que envergonhavam o Brasil perante o mundo.
Quatro anos e seis meses de governo dominado pela política de São Paulo, o jogo parece que empatou. O tucanato paulista é democrático, dá oportunidade a todos.


Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: O Estado de Direito
Próximo Texto: Otavio Frias Filho: Debates
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.