São Paulo, quinta, 17 de julho de 1997.



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Um rombo cultural

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O acidente com o avião da TAM escancarou as portas para mais um punhado de cenas explícitas da cultura fast food que assola o planeta.
Funciona assim: tudo tem que se resolver no curto espaço entre uma edição e outra dos jornais ou, o que é pior, no intervalo ainda mais apertado entre uma edição e outra dos telejornais.
Como nem sempre é possível, aparece uma catarata de versões, rumores, indícios, o diabo. No caso do avião da TAM, se fossem verdadeiras todas as "causas" do acidente expostas pela mídia, estaríamos diante de um milagre. Em vez de um rombo na fuselagem, o avião deveria ter se partido em 500 milhões de pedaços e, além disso, em terra, teria havido estrago similar ao da explosão de duas ou três bombas atômicas.
A vítima já foi também culpada e voltou a ser apenas vítima, tudo no intervalo entre uma versão e outra.
Chegou-se ao absurdo de aceitar como confiável relatório de uma associação de fundo de quintal, criada faz apenas 12 dias, que colocou a TAM entre as piores companhias aéreas do mundo. Ninguém se deu ao trabalho de perguntar se a entidade autora do relatório tinha um mínimo de credenciais para elaborá-lo.
Não tinha, mas, na cultura fast food, nem precisa ter. Se houve um rombo no avião, se não foi possível explicá-lo rapidamente, decrete-se a insegurança da companhia envolvida e ponto final.
Tudo seria apenas ridículo, não fosse a seriedade do assunto envolvido. Mas seriedade, mesmo em doses mínimas, é incompatível com a cultura fast food.
Suspeito que o próximo ataque do vírus fast food será no episódio da crise cambial em alguns países da Ásia. Não demora muito e alguém vai apontá-la como "a crise final do capitalismo", aquela que a esquerda passou o século quase todo esperando e não veio.







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