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Um rombo cultural
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O acidente com o avião
da TAM escancarou as portas para
mais um punhado de cenas explícitas
da cultura fast food que assola o planeta.
Funciona assim: tudo tem que se resolver no curto espaço entre uma edição e outra dos jornais ou, o que é
pior, no intervalo ainda mais apertado entre uma edição e outra dos telejornais.
Como nem sempre é possível, aparece uma catarata de versões, rumores,
indícios, o diabo. No caso do avião da
TAM, se fossem verdadeiras todas as
"causas" do acidente expostas pela
mídia, estaríamos diante de um milagre. Em vez de um rombo na fuselagem, o avião deveria ter se partido em
500 milhões de pedaços e, além disso,
em terra, teria havido estrago similar
ao da explosão de duas ou três bombas atômicas.
A vítima já foi também culpada e
voltou a ser apenas vítima, tudo no
intervalo entre uma versão e outra.
Chegou-se ao absurdo de aceitar como confiável relatório de uma associação de fundo de quintal, criada faz
apenas 12 dias, que colocou a TAM
entre as piores companhias aéreas do
mundo. Ninguém se deu ao trabalho
de perguntar se a entidade autora do
relatório tinha um mínimo de credenciais para elaborá-lo.
Não tinha, mas, na cultura fast food,
nem precisa ter. Se houve um rombo
no avião, se não foi possível explicá-lo
rapidamente, decrete-se a insegurança da companhia envolvida e ponto
final.
Tudo seria apenas ridículo, não fosse a seriedade do assunto envolvido.
Mas seriedade, mesmo em doses mínimas, é incompatível com a cultura fast
food.
Suspeito que o próximo ataque do
vírus fast food será no episódio da crise cambial em alguns países da Ásia.
Não demora muito e alguém vai
apontá-la como "a crise final do capitalismo", aquela que a esquerda passou o século quase todo esperando e
não veio.
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