São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Uma mulher impaciente

SÃO PAULO - Nem todas as mulheres têm a paciência que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva atribui a elas. Aliás, essa história de ficar pedindo paciência, francamente, já encheu a paciência, mas deixemos esse aspecto para outra hora.
A mulher que perdeu a paciência com o governo Lula chama-se Roseana Garcia e é viúva do prefeito de Campinas, Toninho do PT, assassinado em 2001.
Roseana tem toda a razão do mundo para perder a paciência, porque o tratamento a ela dado pelo presidente da República é revelador a respeito da profunda transformação que o poder operou em Lula -transformação para imensamente pior.
Vejamos: na posse, Lula fez questão de afastar a segurança para abraçar Roseana, com a qual se comprometeu a reabrir a investigação em torno do assassinato de Toninho, militante do PT nos 20 anos anteriores a seu assassinato.
Agora, ano e meio depois, Lula recusou-se a receber Roseana. A recusa seria compreensível se Roseana pretendesse pedir uma boquinha no governo ou um empréstimo do BB, como estão fazendo os cantores Zezé di Camargo e Luciano, que cantam para levantar dinheiro para a nova sede do PT (aliás, no luxo dos Jardins, bem de acordo com o espírito do "new PT").
Mas Roseana queria bem menos: cobrar um compromisso (o de reabrir a investigação).
Para quem, como Lula, vive dizendo que "um irmão nem sempre é um companheiro, mas um companheiro é sempre um irmão", dar as costas à viúva de um "companheiro-irmão" como foi Toninho do PT diz mais do que muitas das políticas que seu governo pratica e que também nada têm a ver com o que Lula dizia antes de chegar ao conforto do poder.
Por isso, a impaciente Roseana diz: "Esperava muito mais politicamente do governo Lula".


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