São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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A GUERRA DA AIDS

O panorama da epidemia de Aids no mundo vai assumindo contornos cada vez mais sombrios. É especialmente preocupante o ritmo com que a doença avança entre as mulheres. Na faixa da população jovem, dos 15 aos 24 anos, elas já respondem por 60% dos casos. Seu risco de contrair a moléstia já é três vezes maior que o dos homens.
Os números absolutos impressionam. O total de pessoas vivendo com o HIV cresceu de 35 milhões em 2001 para 38 milhões em 2003. Só no ano passado 3 milhões morreram por causas relacionadas à doença. Desde que surgiram os primeiros casos, em 1981, a Aids já matou 20 milhões.
São cifras que justificam a comparação que o secretário-geral da ONU, Kofi Annan, fez da Aids com armas de destruição em massa. Cobrando uma maior participação dos EUA no combate à epidemia, Annan lembrou que o terrorismo é uma preocupação devido à sua capacidade de destruir milhares de vidas e acrescentou: "Mas eis aí uma epidemia matando milhões. Qual a reação? Precisamos de liderança, e os EUA têm o dom da liderança devido a seu tamanho e seus recursos".
Seria injusto afirmar que a Casa Branca assiste inerte ao avanço da Aids. O presidente George W. Bush anunciou que dará US$ 15 bilhões em cinco anos para enfrentar a epidemia na África, no Caribe e no Vietnã. O problema é que os EUA vinculam essa ajuda à adoção de programas de prevenção baseados na abstinência sexual (uma das bandeiras de Bush) e à utilização de medicamentos de marca, e não genéricos.
Num comunicado escrito, o presidente da França, Jacques Chirac classificou essas exigências como chantagem. De fato, a pressão contra o uso de genéricos contraria acordo firmado no âmbito da Organização Mundial do Comércio em 2001, com a anuência dos EUA, que reconhece o direito de países pobres de quebrar patentes em emergências sanitárias. E, se a Aids não é uma emergência sanitária, nada o será.


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