São Paulo, sábado, 17 de julho de 2004

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Discernir valores

Quem não percebe a mescla de valores que marcam a história e, em especial, o nosso tempo? Há valores e pseudovalores que, no entanto, exercem influência na sociedade e criam atrações contrastantes e conflitantes.
É preciso saber discernir para assegurar à sociedade condições de verdadeiro desenvolvimento, não só material mas espiritual, com a perspectiva de plena realização para a pessoa humana.
Com efeito, neste mundo, há expressões de beleza e de verdade e tantos valores positivos, como a amizade, o amor, a dedicação e a solidariedade; há, igualmente, manifestações de perversidade que lesam e até destroem a convivência humana.
Continua afligindo os povos a enorme desigualdade social e econômica que gera bolsões de miséria cada vez maiores. Crescem a espiral da violência, revelando rivalidades quase insanáveis, e o ódio no coração, arquitetando formas de vingança, de revanchismo e de retaliação. O tráfico de tóxicos agrava as agressões, assaltos e chacinas. Temos presenciado, nos últimos anos, a radicalização de discriminações, com a segregação cada vez maior de etnias, de culturas e até de filiações religiosas. A tudo isso somam-se a perda de sentido da vida, o vazio e a frustração que levam ao desespero.
Forte indicador dessa complexa situação é o descontentamento e alienação de parte de nossa juventude, que não hesita em recorrer ao álcool, aos tóxicos e ao desabafo de sons e gritos, que manifestam a perda de rumo e o desperdício de energias.
Temos de dar-nos as mãos para redescobrir os valores que justificam a existência humana. Há caminhos a seguir para construir uma nova ordem social. Diante da injusta distribuição de bens, precisamos perceber a doença axiológica que provoca esse desequilíbrio. Por um lado, é a ambição egoísta, que leva a acumular riquezas; por outro, a falta de vivência da cidadania e da fraternidade. A miséria de muitos nasce da acumulação exagerada de alguns. A solução encontra-se na educação para reconhecer, respeitar e promover a dignidade da pessoa humana à luz de Deus. Segue-se daí que a ordem econômica e a pesquisa científica devem submeter-se aos critérios éticos que derivam do primado da vida humana.
A brutalidade da violência, em seus múltiplos aspectos, requer a extirpação do ódio e a reconciliação entre pessoas e grupos rivais. Aqui constatamos ainda mais a fragilidade das relações humanas e a necessidade do auxílio divino para vencer o rancor, a raiva e o ódio. A lógica da vingança deve ceder à lógica do amor e do perdão. Não há saída para o mundo da violência a não ser pela força do perdão. A bondade desarma e ensina a pagar o mal com o bem, conforme a regra áurea do Evangelho: "Amar os inimigos e fazer o bem a quem nos odeia" (Lc. 6,27).
A formação para a estima, para o respeito e para o diálogo nos ajudará a alcançar níveis sempre mais altos de concórdia e de convivência no pluralismo e na diversidade
Refletindo sobre a complexidade de nosso momento de história, descobrimos melhor a sabedoria do Evangelho. O mundo tem solução.
É sempre tempo para aprendermos a amar o próximo como Jesus Cristo nos ensina.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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