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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA
Discernir valores
Quem não percebe a mescla de
valores que marcam a história e,
em especial, o nosso tempo? Há valores e pseudovalores que, no entanto,
exercem influência na sociedade e
criam atrações contrastantes e conflitantes.
É preciso saber discernir para assegurar à sociedade condições de verdadeiro desenvolvimento, não só material mas espiritual, com a perspectiva
de plena realização para a pessoa humana.
Com efeito, neste mundo, há expressões de beleza e de verdade e tantos
valores positivos, como a amizade, o
amor, a dedicação e a solidariedade;
há, igualmente, manifestações de perversidade que lesam e até destroem a
convivência humana.
Continua afligindo os povos a enorme desigualdade social e econômica
que gera bolsões de miséria cada vez
maiores. Crescem a espiral da violência, revelando rivalidades quase insanáveis, e o ódio no coração, arquitetando formas de vingança, de revanchismo e de retaliação. O tráfico de tóxicos agrava as agressões, assaltos e
chacinas. Temos presenciado, nos últimos anos, a radicalização de discriminações, com a segregação cada vez
maior de etnias, de culturas e até de filiações religiosas. A tudo isso somam-se a perda de sentido da vida, o vazio e
a frustração que levam ao desespero.
Forte indicador dessa complexa situação é o descontentamento e alienação de parte de nossa juventude, que
não hesita em recorrer ao álcool, aos
tóxicos e ao desabafo de sons e gritos,
que manifestam a perda de rumo e o
desperdício de energias.
Temos de dar-nos as mãos para redescobrir os valores que justificam a
existência humana. Há caminhos a seguir para construir uma nova ordem
social. Diante da injusta distribuição
de bens, precisamos perceber a doença axiológica que provoca esse desequilíbrio. Por um lado, é a ambição
egoísta, que leva a acumular riquezas;
por outro, a falta de vivência da cidadania e da fraternidade. A miséria de
muitos nasce da acumulação exagerada de alguns. A solução encontra-se
na educação para reconhecer, respeitar e promover a dignidade da pessoa
humana à luz de Deus. Segue-se daí
que a ordem econômica e a pesquisa
científica devem submeter-se aos critérios éticos que derivam do primado
da vida humana.
A brutalidade da violência, em seus
múltiplos aspectos, requer a extirpação do ódio e a reconciliação entre
pessoas e grupos rivais. Aqui constatamos ainda mais a fragilidade das relações humanas e a necessidade do
auxílio divino para vencer o rancor, a
raiva e o ódio. A lógica da vingança
deve ceder à lógica do amor e do perdão. Não há saída para o mundo da
violência a não ser pela força do perdão. A bondade desarma e ensina a
pagar o mal com o bem, conforme a
regra áurea do Evangelho: "Amar os
inimigos e fazer o bem a quem nos
odeia" (Lc. 6,27).
A formação para a estima, para o
respeito e para o diálogo nos ajudará a
alcançar níveis sempre mais altos de
concórdia e de convivência no pluralismo e na diversidade
Refletindo sobre a complexidade de
nosso momento de história, descobrimos melhor a sabedoria do Evangelho. O mundo tem solução.
É sempre tempo para aprendermos
a amar o próximo como Jesus Cristo
nos ensina.
Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos
sábados nesta coluna.
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