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CLÓVIS ROSSI
Negócios? Nem legais
SÃO PAULO - Sergio Ramírez é
um notável escritor nicaragüense,
que se tornou revolucionário, lutou
com a Frente Sandinista de Libertação Nacional contra a nefanda ditadura Somoza, elegeu-se vice-presidente e, afinal, rompeu com os
companheiros, horrorizado com o
nível de corrupção a que se dedicaram uma vez instalados no poder.
No auge do escândalo do mensalão, ele me disse uma frase que não
me sai da cabeça: "Se eu fosse presidente, antes da posse chamaria todos os parentes e amigos e lhes diria
que, durante o meu governo, não
poderiam fazer negócios. Nem negócios legais".
O Brasil certamente seria um
país melhor se o presidente Lula tivesse adotado o conselho. É incrível
a quantidade de parentes, amigos e
companheiros próximos do presidente envolvidos em negócios, talvez legais, talvez não, em um país
em que jamais se esclarece definitivamente algo que implique política
e políticos.
O filho do presidente envolveu-se
em negócios, justamente na área de
telefonia, que foi um dos focos de
atuação de Daniel Dantas. Envolveu-se em negócios, vários aliás, o
compadre do presidente, o advogado Roberto Teixeira. Aparece em
"grampos", também relacionados
ao caso da telefonia, o atual secretário-geral do PT, José Eduardo Cardozo, justamente o que assumiu a
bandeira da decência em um partido marcado pelo rótulo de "organização criminosa".
Para não falar em Luiz Eduardo
Greenhalgh, que, por tabela, envolveu nos seus negócios o lealíssimo
braço direito do presidente, Gilberto Carvalho.
Todos dizem que são negócios legais ou intervenções inocentes.
Mas ajudaram a criar esse ambiente
de pântano em que a República vive
mergulhada.
PS - Graças a habeas corpus concedido pela Folha, fujo para 10 dias
de férias.
crossi@uol.com.br
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