São Paulo, terça-feira, 17 de agosto de 2004

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ELIANE CANTANHÊDE

CPI da CPI

BRASÍLIA - A CPI do Banestado quebrou o sigilo bancário de milhares de pessoas: banqueiros, executivos da área financeira, craques brasileiros do futebol internacional. E deixou uma dúvida: para quê?
Uma possibilidade, que parece ingênua, mas não pode ser simplesmente descartada, é a de que foi para fazer "justiça", descobrir maracutaias, confirmar culpas, zelar pelo bem público. Nessa hipótese, os senhores parlamentares sentiram-se paladinos da moralidade e mandaram ver na vida bancária dos "peixes graúdos". Apenas foram um tanto incompetentes e relaxados.
Uma segunda possibilidade, nada absurda e até plausível, é que alguém, por moto próprio ou servindo a interesses alheios, aproveitou-se da "oportunidade" para fazer um gordo arquivo das contas e depósitos dos outros, imaginando algo assim: informação nunca é demais, serve para mil e uma utilidades.
Uma terceira possibilidade, também nada absurda, apesar de assustadora, é que governos, partidos ou parlamentares estavam tentando -e conseguiram- listar contas, depósitos e negócios dos grandes financiadores de campanhas eleitorais. Primeiro, óbvio, porque eles têm a grana. Segundo, porque ficariam suscetíveis -em tese, frise-se- a chantagens e achaques.
Em qualquer caso, a maior vítima, evidentemente, foi quem está com sua movimentação bancária exposta por aí a troco de nada. O próprio Congresso também sai chamuscado, porque a coisa toda virou um circo -um circo pegando fogo, com os petistas e os tucanos da comissão jogando uns aos outros na fogueira. (E imaginar que a CPI foi feita para pegar o PFL...).
Mas a maior vítima é a própria instância CPI, depois de todo um passado de lutas e glórias. Ao atentar contra princípios básicos do direito individual, a CPI do Banestado oscila entre o ridículo e a ameaça de anarquia. Ou acaba logo, sem choro nem vela, ou não tem jeito: CPI da CPI!


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