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À MANEIRA CHINESA
É patética a declaração do
chanceler brasileiro, Celso
Amorim, de que está decepcionado
com a China pelo fato de aquele país
ter decidido barrar a proposta de ampliação do Conselho de Segurança
(CS) das Nações Unidas apresentada
por Brasil, Índia, Japão e Alemanha,
o chamado G-4. O ministro parece
considerar-se enganado pelas autoridades de Pequim, que, segundo ele,
teriam, "à maneira oriental", manifestado apoio à pretensão brasileira
de conquistar uma cadeira permanente no CS.
Seria mais exato afirmar que o
chanceler se deixou enganar. Até estudantes do ciclo médio sabem da
profunda rivalidade entre a China e o
Japão. Pequim julga que Tóquio ainda não se desculpou a contento pelas
atrocidades cometidas pelo Exército
Imperial japonês durante a ocupação
da China nos anos 30 e 40. E o nacionalismo chinês não é uma força que
possa ser desprezada.
De mais a mais, apesar dos estreitos vínculos econômicos, os dois
países travam uma intensa disputa
por liderança regional. A China, em
sã consciência, jamais daria ao Japão
o poder de fogo de um assento permanente no CS, ao qual, hoje, só fazem jus a própria China, os EUA, o
Reino Unido, a França e a Rússia.
É verdade, como sustenta Amorim,
que o governo chinês poderia ter
apoiado a proposta de ampliação do
CS feita pelo G-4, que é genérica, isto
é, não atribui ocupantes às cadeiras
criadas, deixando para depois a tentativa de barrar o Japão. Mas essa seria uma estratégia arriscada. Quando
se opõe ao projeto como um todo,
Pequim automaticamente consegue
aliados de peso para a sua causa, aí
incluídos todos os países que fazem
restrições a candidaturas específicas.
Chega a ser incrível que o Itamaraty
não tenha feito corretamente os cálculos políticos e, assim, se tenha deixado ludibriar por Pequim. E isso depois de muitas bajulações, entre as
quais o fantástico reconhecimento
oficial do Brasil de que a China seria
uma economia de mercado.
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