São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2005

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À MANEIRA CHINESA

É patética a declaração do chanceler brasileiro, Celso Amorim, de que está decepcionado com a China pelo fato de aquele país ter decidido barrar a proposta de ampliação do Conselho de Segurança (CS) das Nações Unidas apresentada por Brasil, Índia, Japão e Alemanha, o chamado G-4. O ministro parece considerar-se enganado pelas autoridades de Pequim, que, segundo ele, teriam, "à maneira oriental", manifestado apoio à pretensão brasileira de conquistar uma cadeira permanente no CS.
Seria mais exato afirmar que o chanceler se deixou enganar. Até estudantes do ciclo médio sabem da profunda rivalidade entre a China e o Japão. Pequim julga que Tóquio ainda não se desculpou a contento pelas atrocidades cometidas pelo Exército Imperial japonês durante a ocupação da China nos anos 30 e 40. E o nacionalismo chinês não é uma força que possa ser desprezada.
De mais a mais, apesar dos estreitos vínculos econômicos, os dois países travam uma intensa disputa por liderança regional. A China, em sã consciência, jamais daria ao Japão o poder de fogo de um assento permanente no CS, ao qual, hoje, só fazem jus a própria China, os EUA, o Reino Unido, a França e a Rússia.
É verdade, como sustenta Amorim, que o governo chinês poderia ter apoiado a proposta de ampliação do CS feita pelo G-4, que é genérica, isto é, não atribui ocupantes às cadeiras criadas, deixando para depois a tentativa de barrar o Japão. Mas essa seria uma estratégia arriscada. Quando se opõe ao projeto como um todo, Pequim automaticamente consegue aliados de peso para a sua causa, aí incluídos todos os países que fazem restrições a candidaturas específicas.
Chega a ser incrível que o Itamaraty não tenha feito corretamente os cálculos políticos e, assim, se tenha deixado ludibriar por Pequim. E isso depois de muitas bajulações, entre as quais o fantástico reconhecimento oficial do Brasil de que a China seria uma economia de mercado.


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