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Crises, ontem e hoje
Pane financeira encontra emergentes em melhor situação que no passado; dificuldade será maior se commodities caírem
ONTEM FOI mais um dia
bastante movimentado na crise financeira
internacional deflagrada há 8 dias. Em meio a oscilações intensas, os ativos considerados de maior risco -como
ações e papéis de países emergentes- sofreram novamente
uma abrupta desvalorização.
No Brasil o índice de preços
das ações na Bovespa chegou a
recuar quase 9%, mas recuperou-se no final do pregão e fechou em baixa de 2,6%, retornando ao nível em que se encontrava em meados de abril. A cotação do dólar alcançou R$ 2,13,
mas a diminuição do nervosismo
permitiu que cedesse para R$
2,09 no final do dia.
A possibilidade de reversão súbita do extremo otimismo predominante até poucas semanas
atrás há anos vinha sendo assinalada por diversos analistas.
Obviamente, não se sabia o momento exato da explosão da bolha nem a intensidade do estrago. Mas, mesmo em meio ao aumento da incerteza, restam elementos tranqüilizadores.
Da perspectiva dos países ditos
emergentes, como o Brasil, esta
rodada de crise financeira poderá ter impacto negativo menos
severo do que tiveram as várias
rodadas da década passada e do
início da atual.
Naquelas ocasiões a maior parte dos emergentes encontrava-se
numa situação de desequilíbrio
em suas contas externas. Enquanto perdurava o otimismo
dos investidores globais, o financiamento desse desequilíbrio,
por meio de grandes entradas de
capitais, era viável. Mas, quando
as expectativas se deterioravam
e as entradas de recursos convertiam-se em saídas, as conseqüências era drásticas.
A capacidade dos países de
cumprir com suas obrigações externas era posta em dúvida. O resultado era uma violenta desvalorização de suas moedas, que
pressionava a inflação e a taxa de
juros, culminando numa súbita
retração da atividade econômica.
Hoje o risco de que a instabilidade financeira desemboque numa recessão no Brasil e na maioria dos emergentes é muito menor. Escaldados pelos traumas
recentes, e bafejados pela alta
dos preços das commodities, os
emergentes, salvo raras exceções, ostentam posição superavitária em suas transações com o
exterior. Ao acumular reservas
de dólares num montante ineditamente alto, ajudam a financiar
o desequilíbrio externo dos EUA.
Nessa circunstância, a conversão de entradas de capitais em
saídas tem impacto bem menos
dramático. A solvência externa
não passa a ser vista como ameaçada; a pressão de desvalorização
da moeda é menor, não há necessidade premente de aumentar a
taxa de juros.
A situação de menor fragilidade dos emergentes não significa,
evidentemente, que eles estejam
isentos de riscos. Se a instabilidade financeira culminar numa
desaceleração expressiva da atividade econômica nos países ricos, o preço das commodities poderá sofrer queda forte. Esse seria um fator de corrosão do superávit nas contas externas, prenunciando o final de um período
de grande bonança para os emergentes -mas não necessariamente uma crise.
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