São Paulo, sexta-feira, 17 de agosto de 2007

Próximo Texto | Índice

Crises, ontem e hoje

Pane financeira encontra emergentes em melhor situação que no passado; dificuldade será maior se commodities caírem

ONTEM FOI mais um dia bastante movimentado na crise financeira internacional deflagrada há 8 dias. Em meio a oscilações intensas, os ativos considerados de maior risco -como ações e papéis de países emergentes- sofreram novamente uma abrupta desvalorização.
No Brasil o índice de preços das ações na Bovespa chegou a recuar quase 9%, mas recuperou-se no final do pregão e fechou em baixa de 2,6%, retornando ao nível em que se encontrava em meados de abril. A cotação do dólar alcançou R$ 2,13, mas a diminuição do nervosismo permitiu que cedesse para R$ 2,09 no final do dia.
A possibilidade de reversão súbita do extremo otimismo predominante até poucas semanas atrás há anos vinha sendo assinalada por diversos analistas. Obviamente, não se sabia o momento exato da explosão da bolha nem a intensidade do estrago. Mas, mesmo em meio ao aumento da incerteza, restam elementos tranqüilizadores.
Da perspectiva dos países ditos emergentes, como o Brasil, esta rodada de crise financeira poderá ter impacto negativo menos severo do que tiveram as várias rodadas da década passada e do início da atual.
Naquelas ocasiões a maior parte dos emergentes encontrava-se numa situação de desequilíbrio em suas contas externas. Enquanto perdurava o otimismo dos investidores globais, o financiamento desse desequilíbrio, por meio de grandes entradas de capitais, era viável. Mas, quando as expectativas se deterioravam e as entradas de recursos convertiam-se em saídas, as conseqüências era drásticas.
A capacidade dos países de cumprir com suas obrigações externas era posta em dúvida. O resultado era uma violenta desvalorização de suas moedas, que pressionava a inflação e a taxa de juros, culminando numa súbita retração da atividade econômica.
Hoje o risco de que a instabilidade financeira desemboque numa recessão no Brasil e na maioria dos emergentes é muito menor. Escaldados pelos traumas recentes, e bafejados pela alta dos preços das commodities, os emergentes, salvo raras exceções, ostentam posição superavitária em suas transações com o exterior. Ao acumular reservas de dólares num montante ineditamente alto, ajudam a financiar o desequilíbrio externo dos EUA.
Nessa circunstância, a conversão de entradas de capitais em saídas tem impacto bem menos dramático. A solvência externa não passa a ser vista como ameaçada; a pressão de desvalorização da moeda é menor, não há necessidade premente de aumentar a taxa de juros.
A situação de menor fragilidade dos emergentes não significa, evidentemente, que eles estejam isentos de riscos. Se a instabilidade financeira culminar numa desaceleração expressiva da atividade econômica nos países ricos, o preço das commodities poderá sofrer queda forte. Esse seria um fator de corrosão do superávit nas contas externas, prenunciando o final de um período de grande bonança para os emergentes -mas não necessariamente uma crise.


Próximo Texto: Editoriais: Do recall à prevenção

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.