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LAURA CAPRIGLIONE
Insustentável leveza
É de estarrecer a forma como se comporta o governo do
Estado de São Paulo quando o
assunto é educação. Agora,
uma medida que se chegou a
apresentar como revolucionária cai por terra antes mesmo
de ser aplicada. Trata-se do
chamado "vale-presente" -a
Secretaria da Educação daria
R$ 50 a alunos que, em dificuldades com matemática, não
faltassem a aulas de reforço.
Houve quem visse no "presente" propósitos eleitoreiros,
outros acusaram-no de premiar o fracasso escolar (bons
alunos não concorreriam ao
benefício), outros ainda de ser
antieducativo, já que, ao prazer do aprendizado, que deveria ser o alvo do processo pedagógico, se anteporia a força
da grana.
Ocioso, agora, discutir as
objeções. O que assombra é a
leveza beirando a irresponsabilidade com que o secretário
Paulo Renato Souza anunciou
o cancelamento do programa,
ontem, na Folha: "É um projeto que está muito cru", disse
ele. "Muito cru", secretário?
Tem sido assim a condução
da educação pública paulista.
Projetos ditos sensacionais em
um dia evaporam no dia seguinte. Isso ajuda a explicar
por que são pífios os indicadores de desempenho escolar no
Estado mais rico.
E não melhoram, como o
próprio Paulo Renato foi obrigado a reconhecer à vista dos
resultados do último Saresp
(Sistema de Avaliação do Rendimento Escolar do Estado de
São Paulo): "Numa avaliação
média, eu diria que tivemos
uma estagnação", admitiu,
confrontado com o fato de que
a performance em matemática
no ensino médio chegou a regredir entre 2008 e 2009.
Em português e matemática, a nota dos alunos do 3º ano
do ensino médio atesta que
eles têm competência abaixo
da que seria esperada para
alunos da 8ª série do ensino
fundamental.
São 15,5 anos de administrações tucanas em São Paulo.
Uma criou a Escola da Família, outra desidratou-a. Primeiro se trombeteou que professores temporários sem qualificação para lecionar seriam
demitidos. Depois o propósito
foi abandonado. "Minha primeira obrigação é garantir aula", disse o secretário, como se
alguém discordasse.
Até uma incrível parceria
entre a cantora pop Madonna
e a Secretaria da Educação
chegou a ser alardeada, com
direito a foto do secretário e do
então governador José Serra
em troca de sorrisos com a
"Material Girl".
A ideia era aplicar um tal
"programa educacional baseado em princípios cabalísticos" na rede pública. "Não é
propriamente um programa
formal, mas para desenvolver
psicologicamente. Para enfrentar melhor a vida", disse
Serra à época. Foi só a mãe de
Lourdes Maria voltar para casa e nunca mais se falou no assunto. Seria tudo uma piada
se não se tratasse das vidas e
esperanças de tantos jovens.
LAURA CAPRIGLIONE é repórter especial da Folha.
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