São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2011

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Círculo virtuoso

Crescimento em ritmo menor favorece consenso incomum sobre a necessidade de casar redução de juros com cortes nos gastos do governo federal

A queda no ritmo de crescimento global, com risco de recidiva na crise financeira de 2008-09, parece ter salvado o governo da perspectiva sombria de poucas semanas atrás: um longo ciclo de alta gradual na taxa básica de juros.
A mudança no cenário externo reduziu o risco inflacionário nos próximos meses. Não se antecipa novo aumento nos preços de commodities. É provável que a ociosidade nas economias centrais provoque baixas nos preços de bens manufaturados no mundo todo.
Além disso, o real valorizado favorece o consumidor brasileiro, pois barateia produtos importados. Com isso, ao menos 40% dos preços do IPCA ficam sem espaço para subir, o que reduz a chance de estouro do teto de 6,5% para a meta de inflação neste ano.
Por outro lado, parece cedo para o Banco Central (BC) comprometer-se com previsões mais otimistas. A perspectiva para a inflação em 2012 está melhor, mas as projeções de analistas ainda indicam alta de 5,2%, acima do centro da meta (4,5%). Na reunião trimestral do BC com economistas, nesta semana, ficou clara a pouca disposição, entre eles, de apostar em taxas mais baixas de inflação.
Do lado do crescimento, a percepção corrente é de perda de velocidade. São frequentes projeções de aumento do PIB na casa de 3,5%, neste ano e no próximo, contra 4% há alguns meses. No mercado de trabalho também já se vislumbra menor expansão (criaram-se 140.563 empregos em julho, 23% menos que no mesmo mês do ano passado).
Mesmo assim, é cedo para estimar o tamanho da desaceleração e seu impacto sobre a inflação. Os preços de serviços continuam crescendo ao ritmo de 9% ao ano, impulsionados pela renda em alta e sem o freio da competição dos importados. Não fosse o comportamento dos preços sensíveis ao quadro externo recessivo e ao câmbio, as expectativas de inflação para 2012 seriam piores.
Um desenvolvimento positivo são os sinais de maturidade no debate sobre os riscos inflacionários. Há um reconhecimento, entre analistas de vários matizes ideológicos, da seriedade das pressões sobre a taxa de inflação.
O governo, por sua vez, tem adotado o discurso de conservadorismo fiscal, condição necessária para vislumbrar no médio prazo uma queda relevante dos juros. Não se devem minimizar, contudo, os perigos em campo, como vários projetos de aumento de gastos e salários em tramitação no Congresso. Politicamente, será um desafio e tanto evitar bombas fiscais, nos próximos meses.
O próprio BC parece ciente de que seria um erro afrouxar a política monetária antes de ficar provada a disposição do governo Dilma Rousseff em segurar o Orçamento.
Nem os mais aguerridos desenvolvimentistas em Brasília admitem largar as rédeas da inflação -não em público, ao menos.


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