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Círculo virtuoso
Crescimento em ritmo menor favorece consenso incomum sobre a necessidade de casar redução de juros com cortes nos gastos do governo federal
A queda no ritmo de crescimento global, com risco de recidiva na
crise financeira de 2008-09, parece ter salvado o governo da perspectiva sombria de poucas semanas atrás: um longo ciclo de alta
gradual na taxa básica de juros.
A mudança no cenário externo
reduziu o risco inflacionário nos
próximos meses. Não se antecipa
novo aumento nos preços de commodities. É provável que a ociosidade nas economias centrais provoque baixas nos preços de bens
manufaturados no mundo todo.
Além disso, o real valorizado favorece o consumidor brasileiro,
pois barateia produtos importados. Com isso, ao menos 40% dos
preços do IPCA ficam sem espaço
para subir, o que reduz a chance
de estouro do teto de 6,5% para a
meta de inflação neste ano.
Por outro lado, parece cedo para o Banco Central (BC) comprometer-se com previsões mais otimistas. A perspectiva para a inflação em 2012 está melhor, mas as
projeções de analistas ainda indicam alta de 5,2%, acima do centro
da meta (4,5%). Na reunião trimestral do BC com economistas,
nesta semana, ficou clara a pouca
disposição, entre eles, de apostar
em taxas mais baixas de inflação.
Do lado do crescimento, a percepção corrente é de perda de velocidade. São frequentes projeções de aumento do PIB na casa
de 3,5%, neste ano e no próximo,
contra 4% há alguns meses. No
mercado de trabalho também já se
vislumbra menor expansão (criaram-se 140.563 empregos em julho, 23% menos que no mesmo
mês do ano passado).
Mesmo assim, é cedo para estimar o tamanho da desaceleração
e seu impacto sobre a inflação. Os
preços de serviços continuam
crescendo ao ritmo de 9% ao ano,
impulsionados pela renda em alta
e sem o freio da competição dos
importados. Não fosse o comportamento dos preços sensíveis ao
quadro externo recessivo e ao
câmbio, as expectativas de inflação para 2012 seriam piores.
Um desenvolvimento positivo
são os sinais de maturidade no debate sobre os riscos inflacionários.
Há um reconhecimento, entre
analistas de vários matizes ideológicos, da seriedade das pressões
sobre a taxa de inflação.
O governo, por sua vez, tem
adotado o discurso de conservadorismo fiscal, condição necessária para vislumbrar no médio prazo uma queda relevante dos juros.
Não se devem minimizar, contudo, os perigos em campo, como
vários projetos de aumento de
gastos e salários em tramitação no
Congresso. Politicamente, será
um desafio e tanto evitar bombas
fiscais, nos próximos meses.
O próprio BC parece ciente de
que seria um erro afrouxar a política monetária antes de ficar provada a disposição do governo Dilma
Rousseff em segurar o Orçamento.
Nem os mais aguerridos desenvolvimentistas em Brasília admitem largar as rédeas da inflação
-não em público, ao menos.
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