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A onda Kirchner
A trajetória de Cristina Kirchner
rumo à reeleição presidencial na
Argentina ganhou contornos de
inevitabilidade depois de sua vitória esmagadora nas primárias.
Foi a primeira vez que primárias
na Argentina se deram pelo voto
direto. Nenhum candidato do fracionado sistema partidário do
país fica alijado, e a votação funciona como uma imensa pesquisa
eleitoral (o voto é obrigatório).
A vitória de Cristina nessas prévias é ainda mais expressiva se
comparada com eleições anteriores. Só Raúl Alfonsín, no pleito de
1983, conseguiu 50% dos votos,
como fez agora a presidente. Nunca, desde a redemocratização ali
iniciada, um postulante havia sido derrotado em apenas uma das
24 províncias do país.
A dez semanas do pleito de 23
de outubro, Cristina deve vencer
no primeiro turno. Bastam 45%
dos votos, ou mesmo 40%, se
abrir vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado.
A oposição está rachada. Os
principais oponentes -Ricardo
Alfonsín (filho do ex-presidente),
Eduardo Duhalde (ex-presidente)
e Hermes Binner (governador da
província de Santa Fé)- obtiveram entre 10% e 12% cada.
A maior fraqueza de Cristina -a
morte, há dez meses, do marido,
principal estrategista e ex-presidente Néstor Kirchner- tornou-se, paradoxalmente, um trunfo.
Uma imagem de viúva fragilizada
amenizou o desgaste pelos frequentes conflitos com vários setores, da mídia ao empresariado.
A pujança econômica, com
crescimento de 8,4% em 2010 e
previsão de ao menos 5% em 2011,
completa o quadro de harmonia
entre Cristina e o eleitorado. Deficiências graves, como a inflação
maquiada (estima-se que a taxa
seja o triplo da oficial, de 8% ao
ano), não devem redundar em crises capazes de alterar o quadro
eleitoral nos próximos meses.
A grande incógnita passa a ser a
capacidade de Cristina de criar
uma "onda K" que lhe garanta
maioria consistente no Congresso, nos moldes da "onda vermelha" da eleição de Luiz Inácio Lula
da Silva no Brasil em 2002. Nas
eleições municipais de julho, os
kirchneristas se saíram mal em cidades importantes.
Mais que a reeleição, de resto
muito próxima, a presidente almejará retomar o controle do Parlamento, origem de boa parte de
seus problemas nos últimos anos.
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