São Paulo, quarta-feira, 17 de agosto de 2011

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A onda Kirchner

A trajetória de Cristina Kirchner rumo à reeleição presidencial na Argentina ganhou contornos de inevitabilidade depois de sua vitória esmagadora nas primárias.
Foi a primeira vez que primárias na Argentina se deram pelo voto direto. Nenhum candidato do fracionado sistema partidário do país fica alijado, e a votação funciona como uma imensa pesquisa eleitoral (o voto é obrigatório).
A vitória de Cristina nessas prévias é ainda mais expressiva se comparada com eleições anteriores. Só Raúl Alfonsín, no pleito de 1983, conseguiu 50% dos votos, como fez agora a presidente. Nunca, desde a redemocratização ali iniciada, um postulante havia sido derrotado em apenas uma das 24 províncias do país.
A dez semanas do pleito de 23 de outubro, Cristina deve vencer no primeiro turno. Bastam 45% dos votos, ou mesmo 40%, se abrir vantagem de dez pontos sobre o segundo colocado.
A oposição está rachada. Os principais oponentes -Ricardo Alfonsín (filho do ex-presidente), Eduardo Duhalde (ex-presidente) e Hermes Binner (governador da província de Santa Fé)- obtiveram entre 10% e 12% cada.
A maior fraqueza de Cristina -a morte, há dez meses, do marido, principal estrategista e ex-presidente Néstor Kirchner- tornou-se, paradoxalmente, um trunfo. Uma imagem de viúva fragilizada amenizou o desgaste pelos frequentes conflitos com vários setores, da mídia ao empresariado.
A pujança econômica, com crescimento de 8,4% em 2010 e previsão de ao menos 5% em 2011, completa o quadro de harmonia entre Cristina e o eleitorado. Deficiências graves, como a inflação maquiada (estima-se que a taxa seja o triplo da oficial, de 8% ao ano), não devem redundar em crises capazes de alterar o quadro eleitoral nos próximos meses.
A grande incógnita passa a ser a capacidade de Cristina de criar uma "onda K" que lhe garanta maioria consistente no Congresso, nos moldes da "onda vermelha" da eleição de Luiz Inácio Lula da Silva no Brasil em 2002. Nas eleições municipais de julho, os kirchneristas se saíram mal em cidades importantes.
Mais que a reeleição, de resto muito próxima, a presidente almejará retomar o controle do Parlamento, origem de boa parte de seus problemas nos últimos anos.


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