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EM FAVOR DA RAZÃO
Com o adiamento da votação
da Lei de Biossegurança, parece difícil o governo do presidente
Luiz Inácio Lula da Silva evitar a edição de uma nova medida provisória
que autorize o cultivo de sementes
transgênicas de soja. O plantio da safra começa em outubro, e a única
maneira de evitar que os agricultores
que se valem dessa variedade fiquem
na ilegalidade é editar nova MP.
Desta feita, a responsabilidade pelo
atraso na aprovação da Lei de Biossegurança, que forneceria um marco
regulatório estável para os organismos geneticamente modificados
(OGMs), deve recair sobre o Congresso Nacional, pois o governo enviou seu projeto ao Legislativo em
novembro do ano passado.
Se, neste caso específico, se pode
censurar algo ao Planalto, é o fato de
ter colocado na mesma peça legislativa dois temas altamente polêmicos:
os transgênicos e a manipulação de
embriões humanos para pesquisa.
De fato, percebe-se entre os parlamentares a tendência de aceitar o
plantio e a comercialização da soja
transgênica e de apoiar a definição de
regras mais fixas que permitam decidir sobre outros produtos geneticamente modificados.
Não há, entretanto, nem sombra
de consenso no que diz respeito à
pesquisa com embriões e células-tronco. As bancadas evangélica e católica se mostram radicalmente contra, enquanto cientistas e a opinião
pública esclarecida julgam que o Brasil não pode ser relegado ao atraso
em tão promissora área da investigação médica por força de convicções
religiosas de alguns -que são absolutamente respeitáveis, mas de maneira nenhuma universalizáveis.
Esta Folha defende a liberação da
soja transgênica e um marco regulatório para outros OGMs. A comercialização de produtos alterados só
pode ser autorizada após cuidadosa
avaliação técnica, quando houver indícios convincentes de que são seguros para a saúde e o meio ambiente. É fundamental também que o consumidor seja alertado, no rótulo, sobre
a característica do produto.
Quanto às pesquisas com embriões, ela precisa ser liberada, inclusive a clonagem terapêutica. Nas células-tronco pode estar a chave para a
cura de várias moléstias degenerativas e até a possibilidade de que um
dia se desenvolvam órgãos sobressalentes para transplantes. As perspectivas são animadoras demais para
que permaneçam ignoradas. De resto, existem hoje milhares de embriões humanos que são sobras de
tratamentos de fertilidade armazenados em freezers. Deixar de usar esses
blastocistos, que não apresentam
condições de serem implantados
num útero, em pesquisas que poderão salvar vidas seria uma decisão absolutamente irracional.
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