São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2004

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A VOLTA DE CHÁVEZ

É inquietante a notícia de que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, estaria tramando a derrubada do dispositivo constitucional que autoriza apenas uma reeleição para o Executivo. Anteontem, em visita ao Brasil, o líder venezuelano defendeu uma reforma da Constituição, mas não entrou em detalhes sobre as mudanças que pretenderia introduzir. No mesmo dia, em seu país, um jornal divulgava a proposta de um deputado chavista, que, se aprovada, deixaria livre o caminho para o presidente tentar se perpetuar no poder. Se a manobra for bem-sucedida, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que disse ter visitado o Gabão para aprender como um governante mantém-se 37 anos no poder, poderá encontrar em seu "companheiro" venezuelano uma fonte mais próxima de inspiração.
Hugo Chávez é o legítimo presidente da Venezuela, eleito democraticamente e ungido pelo voto popular em recente plebiscito que poderia tê-lo afastado do poder. Sua inclinação autoritária, no entanto, é flagrante -e nisso, deploravelmente, é acompanhado por grande parte da oposição, que já teve oportunidade de expor seus pendores golpistas.
Antes de vencer o plebiscito, o presidente venezuelano emitira sinais auspiciosos de que estaria disposto a conter suas posições sectárias e provocadoras para tentar estabelecer canais de negociação com as demais forças políticas. Não parece que uma reformulação da Carta para permitir reeleições sem limites seja algo que vá nesse sentido. Se Chávez, sentindo-se fortalecido pelas urnas, considera-se em condições de inaugurar uma nova temporada de confrontos na Venezuela, essa é uma péssima notícia para o país e o continente.


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