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SERGIO COSTA
Paulistas no Nordeste
RIO DE JANEIRO - Vista da estrada Lagoa-Barra, a favela da Rocinha parece um espelho do Brasil
encravado no morro. Ela começa
numa inacreditável concentração
de comércio e moradias, em São
Conrado (seria o Sul/Sudeste desenvolvido?), e vai se espalhando
através de construções, em vários
sentidos irregulares, até o alto, onde barracos se confundem com a
mata (o Norte/Nordeste?).
É uma divisão imaginária, meio
romântica. Se a Rocinha fosse um
pedaço do Brasil, seria só o Nordeste. Desde que nasceu, a favela dá
moradia e abrigo a migrantes da região. Esta semana, duas visitas
mostraram, de forma simples e surpreendente, como uma parte do
país pode ver as outras.
Na quarta-feira, equipe da Folha
acompanhou, através de um radiotransmissor, os traficantes monitorarem a expedição de Alckmin à favela: "Tá dominado. Bagulho de deputado, comboio de deputado. Se
tiver alguma coisa, bala vai comer!
Deputado Geraldo de não sei que lá
com presidente da associação!". Para a galera do mal, todo político é
deputado. Faz sentido.
No dia seguinte, foi a vez de Marta Suplicy circular pelo território
estranho com um terninho esverdeado, mangas compridas, brincos
de pérola e maquiagem à prova do
calor de quase 40 graus. Um improvisado DataRepórter contabilizou:
de 18 pessoas cumprimentadas pela petista, 10 não faziam a menor
idéia de quem se tratava. Oito se dividiram entre "prefeita de São Paulo" e "mãe do Supla" para identificar a loura "chiquerésima", na definição de um cabeleireiro. Para a galera do bem, político é uma espécie
de artista. Gente que se vê na TV.
Agora, vá perguntar a qualquer
um ali, seja olheiro, migrante, espectadora de TV a gato ou manicure, quem manda na área. E assim,
no alto de uma ensolarada zona sul,
o Brasil revela seus contrastes.
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