São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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SERGIO COSTA

Paulistas no Nordeste

RIO DE JANEIRO - Vista da estrada Lagoa-Barra, a favela da Rocinha parece um espelho do Brasil encravado no morro. Ela começa numa inacreditável concentração de comércio e moradias, em São Conrado (seria o Sul/Sudeste desenvolvido?), e vai se espalhando através de construções, em vários sentidos irregulares, até o alto, onde barracos se confundem com a mata (o Norte/Nordeste?).
É uma divisão imaginária, meio romântica. Se a Rocinha fosse um pedaço do Brasil, seria só o Nordeste. Desde que nasceu, a favela dá moradia e abrigo a migrantes da região. Esta semana, duas visitas mostraram, de forma simples e surpreendente, como uma parte do país pode ver as outras.
Na quarta-feira, equipe da Folha acompanhou, através de um radiotransmissor, os traficantes monitorarem a expedição de Alckmin à favela: "Tá dominado. Bagulho de deputado, comboio de deputado. Se tiver alguma coisa, bala vai comer! Deputado Geraldo de não sei que lá com presidente da associação!". Para a galera do mal, todo político é deputado. Faz sentido.
No dia seguinte, foi a vez de Marta Suplicy circular pelo território estranho com um terninho esverdeado, mangas compridas, brincos de pérola e maquiagem à prova do calor de quase 40 graus. Um improvisado DataRepórter contabilizou: de 18 pessoas cumprimentadas pela petista, 10 não faziam a menor idéia de quem se tratava. Oito se dividiram entre "prefeita de São Paulo" e "mãe do Supla" para identificar a loura "chiquerésima", na definição de um cabeleireiro. Para a galera do bem, político é uma espécie de artista. Gente que se vê na TV.
Agora, vá perguntar a qualquer um ali, seja olheiro, migrante, espectadora de TV a gato ou manicure, quem manda na área. E assim, no alto de uma ensolarada zona sul, o Brasil revela seus contrastes.


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