São Paulo, domingo, 17 de setembro de 2006

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ELIANE CANTANHÊDE

Mais uma frente de batalha

BRASÍLIA - Com a Venezuela de Hugo Chávez, a Bolívia de Evo Morales, a Argentina de Néstor Kirchner e vai por aí afora, o Brasil acabou se descuidando do seu quintal.
Quer dizer, do seu vizinho, o Paraguai. E os Estados Unidos não perderam tempo. Enquanto o Brasil se vê às voltas com os "esquerdistas", Washington já tem um pé na Colômbia e está botando outro no Paraguai. A diferença é que a base colombiana é militar e justificada pelo combate ao narcotráfico. A paraguaia, recém-criada, se reveste de ação cívico-social e segue a estratégia cubana de ocupação: via médicos, dentistas, vacinas, remédios.
O presidente Nicanor Duarte, de bobo, não tem nada. Ele atira em todas as direções, ora jogando charme, ora fazendo chantagem explícita. E consegue, ao mesmo tempo, atrair a atenção americana, provocar o Brasil e se aliar à Venezuela -que já compra títulos argentinos e se propõe a quitar dívidas paraguaias com Itaipu, o investimento binacional com o Brasil.
O mesmo sentimento anti-imperialista de setores brasileiros diante dos EUA é difundido na sociedade paraguaia em relação ao Brasil, assim: "Imperialistas por imperialistas, preferimos os EUA. Eles, pelo menos, soltam mais grana".
O Brasil acaba de acordar e criar com a Argentina um fundo de cooperação para o desenvolvimento dos sócios menores do Mercosul -o Paraguai e o Uruguai, doido por um acordo com os EUA para sua carne.
Diante da expectativa de vitória de Lula, o governo trata de anunciar extra-oficialmente que nada muda na política externa. Se mudar, é só para aprofundar ainda mais o que já está aí e, por exemplo, voltar a se preocupar com o Paraguai e o Uruguai, num movimento que diplomatas chamam de "revitalização das relações". E que se traduz como: recuperar os dois das garras "bondosas" do Tio Sam.


elianec@uol.com.br

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