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RUY CASTRO
Especulação à Sherlock
RIO DE JANEIRO - Em maio último, eu estava por acaso em Lisboa
quando aconteceu o desaparecimento da menina inglesa Madeleine McCann, de 4 anos, em um resort turístico no Algarve. Durante
os 15 dias que passei lá, a imprensa
portuguesa não falou de outra coisa. A britânica, também não. Mas só
agora, quatro meses depois, Madeleine está na mídia mundial.
Em quase todo esse tempo, supôs-se que ela fora seqüestrada por
uma rede internacional de pedofilia
enquanto seus pais, os médicos
Gerry e Kate McCann, jantavam
com amigos ingleses num restaurante a 50 metros do quarto onde
estava a menina. Desde então, ela
foi "vista" em toda parte, exceto
aqui no Leblon. Mas, de três semanas para cá, o foco mudou: Madeleine estaria morta desde o primeiro
dia, e seus pais passaram a ser os
principais suspeitos.
Para quem acompanhou o caso
do começo e quase "in loco", como
eu, isso não é surpresa. Para muitos
portugueses, os pais sempre foram
suspeitos. Muita coisa contribuiu
para essa impressão: a demora deles em avisar a polícia, a falta de lágrimas do casal -difícil decidir se a
secura de Kate era digna de admiração ou repulsa- e o talento para gerar notícias.
Há pouco, sangue e cabelos de
Madeleine foram encontrados num
carro alugado pelo casal 25 dias depois do desaparecimento. Ou seja,
29 de maio. No dia seguinte, Kate e
Gerry estavam com o papa Bento 16
em Roma, aos olhos do mundo. Um
álibi e um dia perfeitos para que
possíveis cúmplices -quem sabe,
ingleses- dessem o destino final a
Madeleine, talvez no mar. Mas isso
é só uma especulação à Sherlock.
É preciso que os McCann sejam
inocentes nessa história. Porque, se
forem culpados pela morte, acidental ou não, de sua filha, estaremos
diante do maior caso de simulação e
cinismo do século até agora.
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