São Paulo, segunda-feira, 17 de setembro de 2007

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RUY CASTRO

Especulação à Sherlock

RIO DE JANEIRO - Em maio último, eu estava por acaso em Lisboa quando aconteceu o desaparecimento da menina inglesa Madeleine McCann, de 4 anos, em um resort turístico no Algarve. Durante os 15 dias que passei lá, a imprensa portuguesa não falou de outra coisa. A britânica, também não. Mas só agora, quatro meses depois, Madeleine está na mídia mundial.
Em quase todo esse tempo, supôs-se que ela fora seqüestrada por uma rede internacional de pedofilia enquanto seus pais, os médicos Gerry e Kate McCann, jantavam com amigos ingleses num restaurante a 50 metros do quarto onde estava a menina. Desde então, ela foi "vista" em toda parte, exceto aqui no Leblon. Mas, de três semanas para cá, o foco mudou: Madeleine estaria morta desde o primeiro dia, e seus pais passaram a ser os principais suspeitos.
Para quem acompanhou o caso do começo e quase "in loco", como eu, isso não é surpresa. Para muitos portugueses, os pais sempre foram suspeitos. Muita coisa contribuiu para essa impressão: a demora deles em avisar a polícia, a falta de lágrimas do casal -difícil decidir se a secura de Kate era digna de admiração ou repulsa- e o talento para gerar notícias.
Há pouco, sangue e cabelos de Madeleine foram encontrados num carro alugado pelo casal 25 dias depois do desaparecimento. Ou seja, 29 de maio. No dia seguinte, Kate e Gerry estavam com o papa Bento 16 em Roma, aos olhos do mundo. Um álibi e um dia perfeitos para que possíveis cúmplices -quem sabe, ingleses- dessem o destino final a Madeleine, talvez no mar. Mas isso é só uma especulação à Sherlock.
É preciso que os McCann sejam inocentes nessa história. Porque, se forem culpados pela morte, acidental ou não, de sua filha, estaremos diante do maior caso de simulação e cinismo do século até agora.

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