|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros
FERNANDO DE BARROS E SILVA
A Casa da Mãe Rousseff
SÃO PAULO - A queda de Erenice
Guerra é a primeira baixa do governo Dilma Rousseff. Parece estranho, mas isso é verdade em pelo
menos dois sentidos. Primeiro, há
indícios de que a artilharia contra a
ministra foi estimulada por aliados
da candidatura petista, em busca
de espaço na futura administração.
Segundo, e mais importante,
porque Erenice Guerra deve sua vida política nos últimos oito anos e o
cargo que ocupou até ontem exclusivamente a Dilma Rousseff.
Lula relutou antes de confirmar
Erenice como ministra quando Dilma se lançou candidata. Acabou
cedendo ao apelo, mas fez de Miriam Belchior, a quem preferia no
cargo, a coordenadora do PAC.
Não é plausível que Lula ignorasse a parentela pendurada no Estado que a titular da Casa Civil trazia a
tiracolo. Onde estava o serviço de
inteligência do Planalto? Ocupado
com dossiês a respeito de quem?
Até para um leigo parece óbvio que
os negócios da família Guerra não
resistiriam a um raio-x elementar.
Só o sentimento de onipotência e
a convicção da impunidade explicam que tamanha lambança tenha
sido praticada no interior do Planalto, tão perto da Presidência.
Não há, neste episódio, nenhum
ministro do PMDB, nenhum deputado fisiológico da base aliada, nenhum braço periférico do aparelho
estatal. O cenário é a Casa Civil e os
personagens são crias de Dilma. E
até o enredo, é bom lembrar, há
muito deixou de ser estranho ao PT.
Quando o escândalo estourou,
Dilma logo correu para separar sua
campanha do governo: "Não vou
aceitar que se julgue a minha pessoa baseado no que aconteceu com
o filho de uma ex-assessora".
A primeira reação de Erenice, por
sua vez, foi confundir governo e
campanha, atribuindo as denúncias a manobras "em favor de um
candidato aético e já derrotado".
São declarações contraditórias,
mas movidas pela mesma conveniência. No momento em que se separam, Dilma e Erenice parecem se
confundir numa única farsa.
Texto Anterior: Editoriais: A grande família
Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: Geração espontânea? Índice | Comunicar Erros
|