São Paulo, sexta-feira, 17 de setembro de 2010

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TENDÊNCIAS/DEBATES

Eleições, comunidade judaica e Israel

ARTHUR ROTENBERG


De modo geral, Dilma, Serra e Marina têm opiniões comuns em temas como o papel dos judeus para o desenvolvimento econômico e social do Brasil

Quando me foi colocada a questão política de fazer das eleições o tema principal da edição de setembro da "Revista Hebraica", logo aprovei a ideia, entre outras razões porque a pauta previa entrevistar os três principais candidatos à Presidência da República.
Alguns -poucos, felizmente- consideraram uma ousadia, pois, afinal, é uma revista de clube, embora a Hebraica seja um dos maiores centros comunitários judaicos fora de Israel, com mais de 20 mil associados cuja composição exprime a extração média da comunidade judaica.
A Hebraica é uma entidade apolítica e apartidária, como o são, certamente, os clubes que representam suas respectivas comunidades.
Isso, no entanto, não deve impedir que as pessoas, e especialmente as da minha geração, justifiquem a sua presença na história do nosso país. Além disso, e onde estivessem, os judeus participaram ativamente de movimentos libertários, levados por princípios de justiça social, solidariedade, igualdade de oportunidades, acesso pleno à cidadania e à liberdade de expressão.
As respostas de Dilma Rousseff, José Serra e Marina Silva às 12 perguntas enviadas por uma revista comunitária possibilitam conhecer seus argumentos a respeito de assuntos que, na verdade, interessam a todos os brasileiros.
Foram temas: minorias, antissemitismo, intolerância, discriminação, política externa, conflito e paz no Oriente Médio, relações com o Irã e com o Estado de Israel e a política de meio ambiente a partir da experiência do Fundo para o Desenvolvimento de Israel, criado no final do século 19.
De um modo geral, em questões como o papel dos judeus para o desenvolvimento econômico, cultural e social do Brasil, os três candidatos têm opiniões comuns: desde o descobrimento os judeus se envolveram na construção do país.
Serra espera maior atuação da comunidade; Dilma acredita que a contribuição dos judeus se reverta em melhores condições de vida para todos e o ideal de um forte crescimento econômico com democracia. Marina lembrou os judeus caboclos da Amazônia.
Quanto a manifestações antissemitas, Dilma afirma que não há pretexto que as justifiquem, mas Serra acredita que existe esse risco, sempre um comportamento marginal, que jamais contará com maior adesão na nossa sociedade. Marina simplesmente não acredita nessa possibilidade.
As discordâncias surgem quando se trata do Irã e sua política nuclear, da política externa do Brasil e de sua credencial para mediar o conflito israelo-palestino.
Um exemplo: Dilma, claro, apoia as ações pró-paz do governo Lula e "mais do que uma aproximação com o Irã, quer uma solução negociada para uma situação crítica em uma região nevrálgica do mundo".
Serra afirma que, se fosse presidente, não tomaria a iniciativa de mediar o contencioso Irã-Ocidente nos termos em que o governo brasileiro atuou, mas, "se a ONU nos tivesse delegado tal papel, e desde que houvesse uma pauta clara, aí, sim!". Marina acha "correto o Brasil exercitar a liderança no plano internacional". E os três são favoráveis à coexistência pacífica de dois Estados -Israel e Palestina- livres, seguros e soberanos.
Seja qual for o candidato a Presidência de cada um de nós, temos que ter a consciência de que o eleito determinará o futuro de nosso país, de nossas políticas interna e externa, de nossa economia e, principalmente, de nossos profundos laços com a liberdade de expressão e com a democracia.


ARTHUR ROTENBERG, advogado, é presidente da Associação Brasileira A Hebraica de São Paulo.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem a opinião do jornal. Sua publicação obedece ao propósito de estimular o debate dos problemas brasileiros e mundiais e de refletir as diversas tendências do pensamento contemporâneo. debates@uol.com.br


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