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O BC E OS DERIVATIVOS
A participação do Banco
Central no mercado de derivativos financeiros, sobretudo nos relacionados ao câmbio, revela novamente seus limites. Durante o ataque
especulativo de janeiro de 1999, o BC
atuou no mercado futuro de câmbio,
arcou com elevados prejuízos e não
impediu a desvalorização do real. Na
crise atual, o BC opera no mercado
de "swap" cambial, vem assumindo
perdas e não consegue reverter a queda da taxa de câmbio.
De modo geral, derivativos são
contratos em que os agentes assumem posições sobre o comportamento das variáveis econômicas no
futuro. Trata-se de contratos de "soma zero": se um ganha, o outro perde. Em momentos de normalidade,
as posições ficam pulverizadas, exprimindo expectativas divergentes.
Isso possibilita maior previsibilidade
para as taxas de juros e de câmbio e
para os preços das "commodities".
Em situações de turbulência, os derivativos podem exacerbar a volatilidade intrínseca dos preços dos ativos,
pois permitem grandes apostas com
capital relativamente pequeno.
Nesses momentos, o número de
contratos tende a cair, pois aumentam os riscos. A entrada do BC tende
a provocar uma polarização. O BC
assume um lado dos contratos, e os
outros agentes, a posição contrária.
A concentração dos riscos na carteira
do BC acaba por aumentar a possibilidade de lucro para os especuladores
e de prejuízo para o setor público.
Parece correto o FMI, que procura
limitar a atuação dos bancos centrais
nesses mercados. A partir de março
de 1999, o acordo do governo brasileiro com o Fundo restringiu a atuação do BC no mercado de derivativos. Mas, para garantir a proteção
cambial aos investidores, o BC passou a oferecer contratos de "swap"
cambial em meados de abril de 2002.
O agravamento da crise sugere que o
BC deveria estudar o abandono progressivo de suas posições em derivativos a fim de evitar perdas ainda
maiores. Esse mercado deveria,
idealmente, ser operado apenas por
instituições financeiras e pelas empresas que demandam mecanismos
de proteção (de câmbio ou de juros),
sem intervenção do BC.
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