São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002

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O BC E OS DERIVATIVOS

A participação do Banco Central no mercado de derivativos financeiros, sobretudo nos relacionados ao câmbio, revela novamente seus limites. Durante o ataque especulativo de janeiro de 1999, o BC atuou no mercado futuro de câmbio, arcou com elevados prejuízos e não impediu a desvalorização do real. Na crise atual, o BC opera no mercado de "swap" cambial, vem assumindo perdas e não consegue reverter a queda da taxa de câmbio.
De modo geral, derivativos são contratos em que os agentes assumem posições sobre o comportamento das variáveis econômicas no futuro. Trata-se de contratos de "soma zero": se um ganha, o outro perde. Em momentos de normalidade, as posições ficam pulverizadas, exprimindo expectativas divergentes. Isso possibilita maior previsibilidade para as taxas de juros e de câmbio e para os preços das "commodities". Em situações de turbulência, os derivativos podem exacerbar a volatilidade intrínseca dos preços dos ativos, pois permitem grandes apostas com capital relativamente pequeno.
Nesses momentos, o número de contratos tende a cair, pois aumentam os riscos. A entrada do BC tende a provocar uma polarização. O BC assume um lado dos contratos, e os outros agentes, a posição contrária. A concentração dos riscos na carteira do BC acaba por aumentar a possibilidade de lucro para os especuladores e de prejuízo para o setor público.
Parece correto o FMI, que procura limitar a atuação dos bancos centrais nesses mercados. A partir de março de 1999, o acordo do governo brasileiro com o Fundo restringiu a atuação do BC no mercado de derivativos. Mas, para garantir a proteção cambial aos investidores, o BC passou a oferecer contratos de "swap" cambial em meados de abril de 2002. O agravamento da crise sugere que o BC deveria estudar o abandono progressivo de suas posições em derivativos a fim de evitar perdas ainda maiores. Esse mercado deveria, idealmente, ser operado apenas por instituições financeiras e pelas empresas que demandam mecanismos de proteção (de câmbio ou de juros), sem intervenção do BC.


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