São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Ciência, tecnologia e inovação: urgências CARLOS VOGT
O Brasil está prestes a conhecer o
seu novo presidente, e nem sempre é certo que o novo presidente conheça o Brasil que está assumindo. Na
hipótese positiva, não custa nada elencar algumas urgências para o sistema de
ciência, tecnologia e inovação que podem contribuir, quem sabe, para priorizar ações e otimizar resultados.
Isso sem mencionar o atendimento às condições de regularidade e eficácia integrada e integradora de seu funcionamento. A Fapesp é, no país, a única instituição do gênero que goza plenamente das características acima pleiteadas. Tem um orçamento anual que, nos últimos sete anos, oscilou em torno de R$ 350 milhões e R$ 400 milhões e um amplo espectro de atuação, que envolve desde programas regulares até programas especiais de grande relevância científica, tecnológica, econômica e social. São Paulo, como é sabido, é responsável por mais de 50% da produção científica do país. Logo, além da demanda que se amplia com o sistema de ensino superior, há também o crescimento de excelência ligado à própria capacidade produtiva do Estado nesse domínio. São Paulo precisa, portanto, de recursos que o sistema estadual oferece e também daqueles cuja origem está no sistema federal. Acontece que, entre 1995 e 2000, por limitações econômicas e financeiras, o CNPq, por exemplo, para poder socializar a parcimônia dos recursos de que dispõe para todo o país, reduziu de R$ 181,3 milhões para R$ 130,6 milhões o aporte para bolsas e fomento à pesquisa em São Paulo. Acrescente-se a isso o fato de que o país não tem, praticamente, nenhuma infra-estrutura para a produção dos insumos necessários ao desenvolvimento das pesquisas, sendo eles, na sua grande maioria, importados por contratos executados em dólar. Tome-se mais uma vez o exemplo da Fapesp. Em 2002, o orçamento em dólares da instituição foi reduzido pela metade, se comparado ao de 1996. Essa situação é agravada pelas crises cambiais, como a que agora vivemos e que de tempos em tempos assolam o país, e pelo fato de que um terço do investimento da fundação é comprometido com contratos de importação de equipamentos e de insumos, além do pagamento das bolsas no exterior. O que vale para a Fapesp, neste caso, vale para o sistema de financiamento à pesquisa no país. Daí a urgência em investir na nacionalização de bens de serviço ou de capital para ciência e tecnologia e, assim, contribuir para desengessar o funcionamento do sistema e reduzir os seus custos. Há outros pontos prioritários a serem considerados numa agenda de ousadia inovadora. Mas comecemos já pela autonomia do CNPq. O avanço será grande em si e, simbolicamente, um exemplo da vontade política do novo presidente em relação ao fomento da ciência, da tecnologia e da inovação no país. Carlos Vogt, 59, poeta e linguista, vice-presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência, é presidente da Fapesp. Foi reitor da Unicamp (1990-94). Texto Anterior: Frases Próximo Texto: John Neschling: Alegrias e amarguras de um maestro Índice |
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