São Paulo, quinta-feira, 17 de outubro de 2002 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES Alegrias e amarguras de um maestro JOHN NESCHLING
Após a morte do maestro Eleazar de
Carvalho, em 1996, o secretário da
Cultura, Marcos Mendonça, convidou-me para dirigir a Orquestra Sinfônica
do Estado de São Paulo.
Por isso, insurjo-me, indignado, contra a invasão de minha vida pessoal, intromissão devastadora de garantias constitucionais, concernentes à inviolabilidade da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem das pessoas. Não posso tolerar, em silêncio -porque incompatível com as leis do regime democrático-, que devassem as minhas contas, bisbilhotando despesas de hotéis e restaurantes frequentados por mim. Se não bastasse a iniquidade desse procedimento, ele representa leviana exposição de minha pessoa aos azares da insegurança pública. Tampouco posso ficar calado ante as increpações de que mantenho um "contrato sigiloso" com a Fundação Padre Anchieta e falseei dados sobre os meus ganhos profissionais, que seriam pagos por meio de "operação triangular". As afirmações foram publicadas após sérios protestos dirigidos ao repórter e não são verdadeiras. O contrato não é "sigiloso". Consubstancia um acordo de vontades entre uma fundação de direito privado e um artista. O seu conteúdo é do conhecimento do Ministério Público e do Tribunal de Contas. Tampouco falseei dados referentes aos meus ganhos ou recebi vencimentos por meio de "operação triangular". Jamais meus vencimentos foram reduzidos ou os recebi em dólar. O equívoco, quanto à redução de ganhos, deve-se ao fato de que o jornalista não tinha conhecimento integral dos valores que me eram pagos pela Fundação Padre Anchieta. Quanto a receber em dólar, a moeda norte-americana foi utilizada apenas como referencial de valor. A maledicente referência a "operação triangular", dando a impressão de negócio escuso, explica-se por eu haver constituído uma empresa para gerir meus interesses profissionais, procedimento usual no meio artístico, sem nenhuma vedação legal ou ética. A minha consciência determinou que escrevesse este artigo, embora, como qualquer cidadão, não esteja obrigado a revelar o valor dos meus salários, ainda que instado por repórteres, que não são autoridades competentes para formular tais exigências. Mas, em que pese o travo dessas amarguras, continuarei buscando atingir os horizontes mágicos sonhados para nossa grande orquestra. John Neschling, 55, maestro, é diretor artístico da Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo. Texto Anterior: TENDÊNCIAS/DEBATES Carlos Vogt: Ciência, tecnologia e inovação: urgências Próximo Texto: Painel do leitor Índice |
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