São Paulo, terça-feira, 17 de outubro de 2006

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ROBERTO MANGABEIRA UNGER

Produtividade libertadora

O QUE A nação mais quer é crescimento econômico com inclusão social. Há pré-requisito para que alcance o que deseja. Difícil exagerar seu relevo ou entender sua quase completa ausência do debate brasileiro.
Custo de unidade-trabalho é o nome dado à remuneração média do trabalho, por unidade de produto feita por aquele trabalho. Junta produtividade e custo da mão-de-obra num único critério de comparação. Estudos recentemente publicados mostram algo que ajuda a explicar a mediocridade em que, há mais de 25 anos, vegetamos. Num desses estudos, em que se dá valor 100 à unidade-trabalho nos Estados Unidos, a China recebe 21, e a Índia, 19. Em seus setores organizados, têm, portanto, unidade-trabalho cinco vezes mais barata do que os Estados Unidos. Para o México, porém, o número é 97: o salário é muito mais baixo do que nos Estados Unidos, mas a produtividade também é. O país não tem como reduzir o custo da mão-de-obra a níveis chineses. E não conseguiu salto de produtividade. Falta informação suficiente para calcular a medida no Brasil. Há, porém, razões para crer que estamos próximos dessa situação mexicana.
Nem México, nem China. Só ruína nos aguarda se insistirmos na tentativa insensata de nos tornarmos uma China menos populosa, menos equipada, menos ousada e mais cara. Ganho de produtividade, não aposta em trabalho desqualificado, desequipado e barato, é o caminho.
Algumas iniciativas factíveis nos poriam nesse rumo. No bojo do esforço prioritário para melhorar a qualidade da escola pública, ensino técnico e profissionalizante que não negue a nenhuma criança brasileira, sob pretexto de profissionalizá-la, o domínio de capacitações conceituais básicas. Supressão de todos os encargos sobre a folha de salários e incentivos para empregar e qualificar os trabalhadores mais pobres. Associação entre governos, universidades e empresas, por meio de entidades autônomas como a Embrapa, para desenvolver, adaptar e transferir tecnologias apropriadas a nossa circunstância. Política industrial descentralizada, participativa, pluralista e experimental. Dedicada menos a favorecer alguns setores da economia sobre outros do que a difundir práticas que deram certo. E a ajudar milhares de empreendimentos emergentes a ganhar acesso aos mercados mundiais. Produtividade libertadora, porque baseada na capacitação de muitos.
Dirão que estou pedindo muito.
Estou pedindo o indispensável para que o Brasil se possa levantar.


www.law.harvard.edu/unger
ROBERTO MANGABEIRA UNGER
escreve às terças-feiras nesta coluna.


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