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Estresse na escola
Excesso de licenças médicas para docentes é sinal de que que se deterioram as relações em sala de aula; governo e pais não podem se omitir
A última sexta-feira, Dia do Professor, não foi data para muita comemoração. A educação no Brasil
vai mal, já se aprendeu. Mas nem
todos sabem, ou querem saber,
que os docentes também participam dessa tragédia nacional como vítimas.
Não são apenas os baixos salários. Há indícios de que esteja adquirindo proporções epidêmicas o
fenômeno da indisciplina e da violência em salas de aula, com
maior gravidade em escolas da rede pública. É patente a necessidade de providências, mas ninguém
-poder público, sindicatos, pais
ou educadores- sabe ao certo como reagir.
A deterioração dos relacionamentos em classe tem como sintoma mais visível o estresse dos professores -alguns deles submetidos a situações extremas, como
ameaças de morte.
Por mais que se imagine a ocorrência de abusos na concessão de
licenças médicas por problemas
emocionais, os números chamam
a atenção. De janeiro a julho deste
ano elas chegaram a 19.500 na rede estadual de São Paulo.
A cifra corresponde a 92 afastamentos por dia. Mesmo ponderado como percentual do conjunto
de mestres da rede estadual (220
mil), o índice é alto: 8,9% do corpo
docente afastado ao longo de sete
meses. Pior: a cifra desse período
de 2010 representa 70% do total
de casos do ano anterior, o que sugere uma aceleração do problema.
O governo estadual precisa fazer algo a respeito, mas o alcance
de sua ação é limitado. Seria um
bom começo melhorar as condições gerais de trabalho, aprofundando as políticas de reduzir a um
mínimo as vagas de professor
temporário e de valorizar a função, por meio de aumentos na remuneração básica ou de prêmios
por desempenho e requalificação.
No que toca ao problema específico da violência, aberta ou velada, o Estado pode pouco. Já se assinalou, neste espaço, a necessidade de rever gradação, condições e limites das punições aplicáveis a estudantes, além de serviços especializados de assistência
ao professor. Cabe reconhecer, no
entanto, que o alcance de tais medidas será sempre restrito.
O fenômeno não é só da rede
pública, nem exclusivamente
paulista, muito menos brasileiro.
Por toda parte emergem conflitos
entre os muros da escola, mesmo
em países ricos, quase sempre em
áreas onde algum tipo de iniquidade ou exclusão se torna a regra
-como nos subúrbios europeus
com predomínio de minorias
oriundas de antigas colônias.
Não contribui para melhorar esse quadro a transformação em clichês de conceitos pedagógicos
avessos a reprimir ou cobrar desempenho de jovens estudantes. É
preocupante também que as famílias tenham se tornado tão disfuncionais. Muitos pais parecem encarar a escola e o professor como
responsáveis pela boa educação
dos filhos, no sentido tradicional
da expressão, que compreende o
aprendizado de regras básicas de
convívio social.
Já se tornou lugar comum dizer
que, sem o envolvimento dos pais,
nenhuma escola tem futuro. Antes de participar da vida escolar,
contudo, cabe a eles assumir uma
responsabilidade mais primária,
que é garantir que os próprios filhos reúnam condições de fazê-lo.
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