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Caricatura eleitoral
Engana-se quem julgar que a
eleição do palhaço Tiririca, com
mais de um milhão de votos, representa o caso mais bizarro de
popularidade na política brasileira. A presença da candidata Weslian Roriz (PSC) na disputa pelo
governo do Distrito Federal constitui, provavelmente, um fenômeno ainda mais insólito -e, a seu
modo, mais complexo.
Weslian Roriz foi chamada a
substituir o seu marido, Joaquim
Roriz, cuja candidatura foi barrada pela Lei da Ficha Limpa. Suas
recentes declarações, feitas a uma
emissora de TV na quinta-feira,
seriam apenas cômicas, não fossem deprimentes, por parte de
quem conta com cerca de um terço
das preferências do eleitorado.
Perguntada sobre seus planos
na área de educação e transporte,
Weslian Roriz disse "não ter informação" a esse respeito. "Não foi
eu quem fez meu plano de governo", explicou; "já estava pronto,
eu vou aproveitar".
Reúnem-se aqui problemas sem
dúvida mais intrigantes do que os
sintetizados no fenômeno Tiririca.
O caso Weslian alia sintomas
comparáveis de despreparo pessoal a circunstâncias de outra natureza. Houve o descompasso entre o calendário eleitoral e os procedimentos da Justiça, deixando
indefinidos, até às vésperas do
pleito, os critérios para a aplicação da Lei da Ficha Limpa.
Configurou-se assim a ironia de
uma situação em que o propósito
da lei, que era o de tornar mais
qualificadas as candidaturas a um
cargo eletivo, viu-se traído por
uma realidade incomparavelmente mais tosca.
Persiste, ademais, a identificação de parcelas do eleitorado com
lideranças políticas de estilo personalista, como é a de Joaquim
Roriz; o voto se transfere à cônjuge, sejam quais forem as suas qualificações para o cargo.
Não será o único exemplo de
candidaturas artificiais, inventadas pelo populista de plantão;
mas Weslian Roriz, há de se convir, leva tal prática a seu extremo
de caricatura.
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