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FERNANDO CANZIAN
Um país pobre
SÃO PAULO - Lula foi o brasileiro
que mais concorreu à Presidência.
Foram três derrotas. Até 2002,
quando mudou e venceu. Depois,
se reelegeu em 2006. Pela primeira
vez desde a redemocratização, e
após cinco eleições, seria agora carta fora do baralho. Nem tanto.
O presidente mais popular do
Brasil, com 81% de aprovação, segundo o Datafolha, transmite a
uma neófita na política seu maior
patrimônio neste 2010: a percepção
entre o eleitorado de que Dilma é a
mais preparada para defender os
pobres. E o real.
Isso em um país pobre. Mas que
vem crescendo forte, a despeito dos
desequilíbrios. Com distribuição de
renda, mais crédito e empregos formais. Segundo o Datafolha, 51%
consideram Serra defensor dos ricos. E 61% o veem como o mais experiente para mandar no Brasil. Só
25% enxergam Dilma assim.
No entanto, é a petista quem está
na frente: 54% a 46%, considerando os votos válidos. São os pobres
que fazem a diferença. Não custa
lembrar, em um país ainda repleto
de pobres.
Em seus levantamentos, o Datafolha procura espelhar o Brasil real
em milhares de questionários. Divide seus entrevistados em cotas semelhantes ao que há circulando de
fato pelo país.
Assim, temos que 47% dos eleitores cursaram só o ensino fundamental. Uma parcela quase igual
tem renda familiar mensal de até
dois salários mínimos.
Isso equivale a R$ 1.020 (lembrando que a renda é familiar, não
individual). O valor é inferior à
mensalidade de uma boa escola
privada paulistana. É entre esse
eleitorado, quase majoritário, que
Dilma (e a avaliação de Lula) "arrebentam".
A candidata tem a maioria (51%)
das intenções de voto para o segundo turno entre os menos escolarizados e mais pobres. Serra, cerca de
37% nessas duas faixas do eleitorado. É isso o que explica, de um modo geral, a eleição em um país pobre. O resto ainda é espuma.
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