São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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ELIANE CANTANHÊDE

"Por que não eu?"

BRASÍLIA - Se Benedita da Silva virar ministra de alguma coisa, Marina Silva terá todo o direito de questionar: "Também sou mulher, de origem humilde e petista de primeira hora. Por que não eu?".
Se Tarso Genro for convidado para o ministério, o bigodudo Olívio Dutra vai poder perguntar: "Sou fundador do partido, sou governador e também gaúcho. Por que não eu?".
Se José Genoino for indicado para um ministério ou um bom cargo no Planalto, será a vez de Jaques Wagner indagar: "Também sou deputado de primeira linha e fiz bonito na eleição para o governo (no caso, da Bahia). Por que não eu?".
Se Itamar Franco (sem partido) e José Alencar (PL) vêm sendo sondados para bons cargos pelo presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, Nilmário Miranda no mínimo deve pensar: "Além de político de Minas, eu sou do PT. Por que não eu?".
Se Antônio Palocci for anunciado ministro (é cotado para Planejamento ou Fazenda) e Vicentinho ganhar um cargo robusto, José Eduardo Dutra poderá lembrar: "Também tenho língua presa! Por que não eu?".
Além dos cargos do Planalto, reservados para os íntimos do presidente, há todos os ministérios, o segundo escalão federal, as presidências e as diretorias de estatais e de órgãos poderosos (como Petrobras e BNDES). No sufoco, as embaixadas.
São mais de 20 mil vagas em todo o país, e cinco, 10, 20 candidatos para cada uma, do PT, do PL e dos demais aliados, de primeira e de última hora. Com esse desemprego!
Nesses momentos, a perda de governos bem fornidos como os de São Paulo, Rio e Minas é ainda mais lamentada. A pressão pelos cargos federais poderia ser diluída pelos Estados. Seria um alívio para Lula.
O presidente eleito vai precisar de muitas horas de sossego e de reflexão, como hoje, em que se move entre a Granja do Torto, conhecendo o novo lar com Marisa, e o Alvorada, ouvindo as agruras do poder de FHC.
Lula vai ter de aprender, por exemplo, a dizer "não": "Porque não".



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