São Paulo, domingo, 17 de novembro de 2002

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CLÓVIS ROSSI

A hora de a esquerda pensar

LISBOA - O sociólogo Emir Sader, professor da USP, apontou na sexta- feira o tamanho do desafio conceitual que está lançado ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva:
"Pela primeira vez nos últimos grandes projetos históricos do Brasil, entramos num novo período político sem uma elaboração teórica à altura dos desafios postos", escreveu Emir para esta Folha.
É verdade. A esquerda assume o poder no vácuo de idéias legado, primeiro, pela derrocada do comunismo e, depois, pela necessidade de defender-se da avassaladora marcha do chamado "pensamento único", Consenso de Washington ou como se queira chamar o receituário dito neoliberal. O modelo hegemônico agora está sendo crescentemente criticado em todo o mundo -e não só pela esquerda.
Veja-se, por exemplo, o artigo, sempre nesta Folha, de Jeffrey Sachs (Universidade Columbia), publicado há exatamente uma semana: "A ideologia de estilo "tamanho único, bom para todos" do Consenso de Washington já acabou".
Pois é, tocou ao PT pôr alguma coisa no lugar, depois de o partido ter passado os últimos 10 anos, pelo menos, só na crítica.
Sei que discutir conceitos, como Emir Sader o fez na sexta-feira, é uma tarefa complicada e ingrata. O público está mais interessado em espetáculo ou em resultados, pura e simplesmente.
De modelos e elaborações teóricas, a turma foge correndo.
Mas serão eles ou elas que darão a base para a ação do governo do PT, no primeiro momento em que a esquerda latino-americana se encarrega de governar sem poder recorrer ao Estado como o faz-tudo.
O governo de FHC até que ensaiou a participação no debate da Terceira Via, hoje rebatizada de Governança Progressista. Não está dando certo, ao menos eleitoralmente. Agora, é o turno do PT.
PS - Concedo ao leitor uma semana de férias. Sei que é pouco, mas é bom aproveitar, porque o resto do ano e 2003 serão brabos.



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