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São Paulo, segunda-feira, 17 de novembro de 2003

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PAINEL DO LEITOR

Governo Lula
"Como sempre, Clóvis Rossi, em seu artigo "O poder e a esquerda" (Opinião, pág. A2 de anteontem) mete o dedo na ferida. A proposta de acabar com abatimentos do Imposto de Renda para os "nababos" que ganham acima de R$ 2.400 mensais é a mais recente ofensiva do governo sobre a "renda" da moribunda classe média brasileira. Com isso, o PT mostra covardia para taxar os 10% mais ricos da população e a especulação financeira, respectivamente beneficiários e veículo para a vergonhosa e crescente concentração de renda no Brasil. Bater na indefesa classe média (que, proporcional e absolutamente, é quem mais paga impostos no Brasil) é fácil. Peitar o andar de cima dá uma baita mão-de-obra e envolve alguns riscos, não é?"
Celso Balloti (São Paulo, SP)

 

"O artigo do ministro Tarso Genro no "Tendências/Debates" de ontem (Opinião, pág. A3) parece ter sido escrito em outro país e em outro governo. O Brasil de Lula está bem distante do que é defendido pelo ministro ao dizer que "o governo venceu a sua primeira fase de afirmação e propõe (...) um "novo contrato social", de caráter radicalmente democrático". É preciso demonstrar em ações governamentais objetivas o que a teoria apenas se encarrega de propor."
Hugo Sérgio Urquiza de Castro (Rio de Janeiro, RJ)

Crime
"Gostaria de fazer algumas reflexões sobre a tragédia do casal de namorados Liana e Felipe na visão de um membro da família, pois sou primo da moça. Muito se tem publicado sobre a inacreditável selvageria desse crime, que comoveu a sociedade brasileira e reacendeu um antigo debate sobre a questão da idade mínima de responsabilidade civil. Mas um aspecto que serviu para multiplicar o já imenso sofrimento de toda a família foi a forma como a mídia noticiou o ocorrido. Era necessária a exposição crua e tão minuciosa dos escabrosos detalhes que envolveram essa barbárie? Será que a simples informação venderia menos jornais ou renderia menos pontos nas pesquisas de audiência do que a publicação e banalização "ad nauseam" do número de facadas ou de estupros? Veio-me à memória a veiculação recente, pela internet, de imagens absolutamente repugnantes do corpo dissecado de uma mulher pelo seu amante, cirurgião plástico, após assassiná-la. No caso de Liana, os vívidos relatos veiculados por toda a imprensa tornaram dispensáveis as imagens. Se nós, leitores de jornais e revistas, ouvintes de rádio e espectadores de televisão, precisamos de tal sordidez para alimentar o nosso cotidiano, arriscar-me-ia a dizer que nos aproximamos, numa escala mais reduzida, da torpeza dos criminosos. Por favor, compreendam minha posição: vivemos numa democracia plena, e acho que a liberdade de imprensa que experimentamos é um bem preciosíssimo, a duras penas conquistado. Acho, contudo, que algum tipo de auto-regulamentação deveria ser exercida pelos editores dos órgãos de comunicação para modular, com suas inteligências e seus corações, o formato pelo qual relatos especialmente traumáticos fossem transmitidos à opinião pública. Sem comprometer a qualidade de informação, a dignidade e os sentimentos dos afligidos, de seus familiares e de seus entes queridos poderiam ser preservados e o seu sofrimento, ao menos em parte, mitigado."
Claudio Roberto Cernea (São Paulo, SP)

STJ
"O artigo "A dança das quadrilhas", de Vinicius Torres Freire (Opinião, pág. A2, 10/11), envolve o meu nome, Vicente Leal, ministro do STJ, num rol de criminosos, traficantes e contrabandistas. Segundo o jornalista, haveria, de alguma maneira, interligação de ações. É necessário o resguardo da verdade, impondo-se a devida retificação. O meu nome foi indevidamente mencionado no relatório de uma investigação realizada em Goiás pela Polícia Federal. O agente policial, agindo de modo irresponsável, fez uma análise subjetiva equivocada de gravações telefônicas. Naquelas gravações telefônicas entre criminosos e lobistas, não há uma única referência a meu nome nem prova alguma de meu envolvimento em ato ilícito, dentro ou fora do tribunal. Tais gravações foram publicadas em revistas e jornais em dezembro de 2002. Basta que sejam conferidas para que se constate a absoluta inexistência de citação do meu nome. A tragédia que se abateu sobre a minha honra decorreu de irresponsável análise subjetiva do agente policial. As acusações inverídicas contra mim são objeto de investigação no Supremo Tribunal Federal, foro competente para o caso. No devido tempo, aquela corte máxima fará justiça, quando será provada a minha inocência e o terrível engano cometido pelo agente policial. A imprensa não pode incorrer no mesmo erro, escrevendo sobre a honra e a dignidade das pessoas sem o devido aprofundamento, sem a devida investigação. Fica difícil desfazer uma imagem deturpada diante da opinião pública após a edição de reportagens açodadas."
Vicente Leal, ministro do Superior Tribunal de Justiça (Brasília, DF)

Igreja e aborto
"O fato de a Folha dar um espaço tão generoso para dom Cláudio Hummes ("Aborto e lei", "Tendências/Debates" de ontem, pág. A3) só demonstra o peso que a Igreja Católica tem em nosso país: a influência por ela exercida é tão fundamentalista, invasiva, moralista e autoritária como os costumes de qualquer país muçulmano mais retrógrado. O artigo do cardeal-arcebispo reflete a hipocrisia com que lidamos com as questões reprodutivas no Brasil. Milhares de brasileiras morrem todo ano em decorrência de complicações de abortos caseiros e clandestinos. Outros milhares têm filhos indesejados, que não receberão a dose adequada de afeto e cuidados. Em vez de o Legislativo atentar para esse quadro e para as demandas dos movimentos sociais feministas, dobra-se às demandas da igreja. Como esse Estado pode se considerar laico e democrático?"
Soraya Fleischer (Porto Alegre, RS)

Publicidade 1
"Falta dinheiro para as ações do Fome Zero, mas não faltam recursos para a publicidade desse programa, segundo o Painel de ontem. Será que, para os petistas, a propaganda não é exatamente a alma do negócio, mas o próprio negócio?"
Odilon O. Santos (Marília, SP)

Publicidade 2
"Já tive três carros da Fiat. Sempre gostei deles e da assistência dada pela empresa. Pensando em uma futura troca, aguardava ansioso o lançamento do novo Fiat Palio. Para minha surpresa, na quinta-feira à noite, em horário nobre, assisti na TV a uma publicidade do novo Palio: uma indecência! Um presidiário conclui sua pena, sai do presídio e, seduzido pelo novo carro, promove um furto. O que a Fiat quer com isso? Talvez fechar sua fábrica no Brasil. Em um país assolado diariamente pela violência, com problemas gravíssimos envolvendo presidiários e policiais nos últimos dias, os publicitários contratados para o lançamento deram a maior bola fora da história da publicidade brasileira. Deveriam ser punidos por difundir preconceito contra ex-presidiários, por estimular o crime e por avisar de antemão: não compre o novo Palio, você poderá ser vítima de criminosos! Obrigado, Fiat do Brasil! Se em tantos anos neste país a empresa não adquiriu a menor sensibilidade em relação à sociedade onde está, não merece estar por aqui. Obrigado por me convencer a não comprar o novo carro. Tudo isso por pura gana de criar polêmica a qualquer custo. Só por medo do último lançamento da rival alemã."
Paulo Celso Nogueira Fontão (São Paulo, SP)

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