São Paulo, sexta-feira, 17 de novembro de 2006

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CLÓVIS ROSSI

Cuidado, pornografia

SÃO PAULO - "É necessária uma verdadeira estratégia de mudança que integre os objetivos de crescimento, de emprego e de proteção da indústria", até porque uma moeda forte "penaliza nossa indústria frente à concorrência".
Quem é o perigoso esquerdista jurássico capaz de expor, ainda por cima publicamente, pensamentos tão obscenos?
Chama-se Dominique de Villepin, vem a ser primeiro-ministro da França -e primeiro-ministro de um governo de direita (ainda que, no Brasil, um governo de direita como o francês viesse a ser de extrema-esquerda).
Villepin comete ainda a heresia de defender o consórcio europeu (em parte estatal) que fabrica os aviões Airbus. Sua referência ao euro forte deve-se principalmente aos problemas que o consórcio atribui à valorização da moeda comum européia, supostamente responsável por um impacto negativo de 750 milhões em seus resultados, segundo "Le Monde".
Se a quarta maior economia do mundo, caso da França, tem dificuldades em lidar com uma moeda forte, imagine o Brasil, cujo real é das moedas que mais se valorizaram no mundo emergente.
No entanto, no Brasil, falar em objetivos de crescimento, emprego e proteção da indústria é o mesmo que tratar de pornografia pura e dura. Falar em câmbio valorizado ainda é tolerado, mas só falar, porque ninguém pôs de pé alguma fórmula que permita desvalorizar o real a ponto de devolver competitividade aos setores industriais mais afetados.
De fato, não é fácil, o que não significa que não seja necessário. O que mais choca, no entanto, é a duradoura interdição do debate sobre alternativas no Brasil.
Se Villepin fosse ministro de Lula (ou de FHC), seria rapidamente desautorizado e calaria a boca. Vai ver que é por isso que se vive melhor no Brasil do que na França.


crossi@uol.com.br

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