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CLÓVIS ROSSI
Cuidado, pornografia
SÃO PAULO - "É necessária uma
verdadeira estratégia de mudança
que integre os objetivos de crescimento, de emprego e de proteção
da indústria", até porque uma moeda forte "penaliza nossa indústria
frente à concorrência".
Quem é o perigoso esquerdista
jurássico capaz de expor, ainda por
cima publicamente, pensamentos
tão obscenos?
Chama-se Dominique de Villepin, vem a ser primeiro-ministro da
França -e primeiro-ministro de
um governo de direita (ainda que,
no Brasil, um governo de direita como o francês viesse a ser de extrema-esquerda).
Villepin comete ainda a heresia
de defender o consórcio europeu
(em parte estatal) que fabrica os
aviões Airbus. Sua referência ao euro forte deve-se principalmente aos
problemas que o consórcio atribui à
valorização da moeda comum européia, supostamente responsável
por um impacto negativo de 750
milhões em seus resultados, segundo "Le Monde".
Se a quarta maior economia do
mundo, caso da França, tem dificuldades em lidar com uma moeda
forte, imagine o Brasil, cujo real é
das moedas que mais se valorizaram no mundo emergente.
No entanto, no Brasil, falar em
objetivos de crescimento, emprego
e proteção da indústria é o mesmo
que tratar de pornografia pura e
dura. Falar em câmbio valorizado
ainda é tolerado, mas só falar, porque ninguém pôs de pé alguma fórmula que permita desvalorizar o
real a ponto de devolver competitividade aos setores industriais mais
afetados.
De fato, não é fácil, o que não significa que não seja necessário. O
que mais choca, no entanto, é a duradoura interdição do debate sobre
alternativas no Brasil.
Se Villepin fosse ministro de Lula
(ou de FHC), seria rapidamente desautorizado e calaria a boca. Vai ver
que é por isso que se vive melhor no
Brasil do que na França.
crossi@uol.com.br
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