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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Botucatu vai à guerra
SÃO PAULO - Depois de invadir a
delegacia, arrombar o cofre, roubar
de volta a droga apreendida, surrupiar armas pesadas e botar fogo em
documentos sobre o tráfico, os bandidos, na saída, ainda dinamitaram
a casa, que veio abaixo. Aconteceu
na última segunda, na pacata Botucatu, no interior paulista.
Chamar isso de terrorismo talvez
provoque algum ruído, porque evoca coisas distintas das que vemos
por aqui. É difícil, no entanto, não
perceber elementos terroristas
neste atentado ao Estado. Explodimos vocês -eis o recado.
Há poucas semanas o diretor de
Bangu 3 foi assassinado enquanto
dirigia seu carro na av. Brasil, às oito da manhã. Levou mais de 30 tiros. Já é quase uma tradição: nos últimos oito anos, seis diretores de
presídios foram mortos no Rio. O
recado também é inequívoco: nós
exterminamos vocês.
Recorde-se aquela noite de maio
de 2006, quando São Paulo, tomada
pelo pânico, se auto-infligiu um histórico toque de recolher. Nas ruas
desertas, só o fantasma do PCC.
Tome-se, ainda, a imagem do traficante no cume do morro, rosto coberto, braços para o alto, exibindo a
metranca como troféu. Já nos é tão
familiar que virou parte da paisagem, coisa nossa, muito nossa, como Noel Rosa e o Cristo Redentor.
Durante a campanha, o Exército
ocupou favelas do Rio para proteger
o eleitor de traficantes e milícias. A
presença excepcional do Estado como garantia, ainda que ilusória, da
liberdade do voto era uma forma
gritante de confissão da omissão rotineira e da impotência crônica desse mesmo Estado diante do avanço
do crime organizado sobre populações à mercê da sua lógica.
Os mais escaldados verão nisso
tudo amostras do que já foi batizado
de guerra civil molecular. Quem pode se fecha em carros blindados ou
bunkers residenciais, condomínios
com meganha privada, câmeras,
cerca elétrica, cães, o diabo. A verdade é que nos adaptamos e reagimos a essa guerra particular com
relativa indiferença. Não deixa de
ser um sintoma do elitismo do país,
ainda que em versão degradada.
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