São Paulo, terça-feira, 17 de novembro de 2009

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Editoriais

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Entrave em Copenhague

O FRACASSO da Conferência de Copenhague estava previsto. O presidente Barack Obama, ao admitir em Cingapura que as três semanas restantes não bastariam para fechar um acordo de prevenção do aquecimento global, deu o mote para a adesão de países-chave, como a China e a anfitriã Dinamarca, à proposta de adiamento. A decisão fica agora para o final de 2010, em reunião no México.
Será difícil demonizar Obama, contudo. Os EUA mais uma vez paralisaram a negociação internacional para acordar metas de redução de gases do efeito estufa, mas não porque seu presidente ponha sob suspeita a ciência da mudança do clima, como fazia o antecessor, George W. Bush.
O presidente democrata está de mãos atadas pelo Congresso de seu país. Legislação com metas domésticas de corte de emissões passou na Câmara, com votação apertada, 219 a 212, e 44 votos democratas contrários (a reforma do sistema de saúde teve menos defecções, 39).
Projeto similar tramita no Senado. Ali, o partido de Obama conta com exatos 60 votos necessários para aprovar qualquer lei, margem mais arriscada que na Câmara. A legislação não entrará em pauta antes de 2010.
Sem ter o que levar a Copenhague, Obama tomou uma atitude sensata: realizar já o prejuízo à sua imagem internacional. Bem a calhar para uma Europa às voltas com divisões internas. E para países como China e Índia, que resistem a adotar compromissos sobre emissões. O adiamento só agrava a ameaça ao planeta. Cada usina termelétrica que entrar em operação no mundo, até lá, continuará lançando gases do efeito estufa por três décadas.
O retrocesso traz, contudo, algum benefício para o Brasil. Tendo anunciado o compromisso voluntário de emitir 36% a 39% menos em 2020 do que ocorreria se nada fosse feito, o governo Lula chegará a Copenhague em posição de clara vantagem sobre países ricos e até sobre China e Índia. Se a imagem de Obama sai arranhada com o adiamento do pacto global, a de Lula ganha uma camada de prestígio.


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