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Entrave em Copenhague
O FRACASSO da Conferência
de Copenhague estava
previsto. O presidente Barack Obama, ao admitir em Cingapura que as três semanas restantes não bastariam para fechar
um acordo de prevenção do
aquecimento global, deu o mote
para a adesão de países-chave,
como a China e a anfitriã Dinamarca, à proposta de adiamento.
A decisão fica agora para o final
de 2010, em reunião no México.
Será difícil demonizar Obama,
contudo. Os EUA mais uma vez
paralisaram a negociação internacional para acordar metas de
redução de gases do efeito estufa,
mas não porque seu presidente
ponha sob suspeita a ciência da
mudança do clima, como fazia o
antecessor, George W. Bush.
O presidente democrata está
de mãos atadas pelo Congresso
de seu país. Legislação com metas domésticas de corte de emissões passou na Câmara, com votação apertada, 219 a 212, e 44
votos democratas contrários (a
reforma do sistema de saúde teve menos defecções, 39).
Projeto similar tramita no Senado. Ali, o partido de Obama
conta com exatos 60 votos necessários para aprovar qualquer
lei, margem mais arriscada que
na Câmara. A legislação não entrará em pauta antes de 2010.
Sem ter o que levar a Copenhague, Obama tomou uma atitude
sensata: realizar já o prejuízo à
sua imagem internacional. Bem
a calhar para uma Europa às voltas com divisões internas. E para
países como China e Índia, que
resistem a adotar compromissos
sobre emissões. O adiamento só
agrava a ameaça ao planeta. Cada
usina termelétrica que entrar em
operação no mundo, até lá, continuará lançando gases do efeito
estufa por três décadas.
O retrocesso traz, contudo, algum benefício para o Brasil. Tendo anunciado o compromisso
voluntário de emitir 36% a 39%
menos em 2020 do que ocorreria
se nada fosse feito, o governo Lula chegará a Copenhague em posição de clara vantagem sobre
países ricos e até sobre China e
Índia. Se a imagem de Obama sai
arranhada com o adiamento do
pacto global, a de Lula ganha
uma camada de prestígio.
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