São Paulo, quarta-feira, 17 de novembro de 2010

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Hora de mudar

Documento ministerial expõe riscos de desindustrialização, que precisam ser enfrentados pelo próximo governo com novas medidas econômicas

Têm sido frequentes os alertas acerca dos riscos de a economia brasileira experimentar um processo de desindustrialização. Embora encobertos pelos índices de crescimento, há de fato sinais de que a indústria vem perdendo posições -desde o recuo de sua participação no PIB e nas exportações até as dificuldades crescentes para enfrentar a concorrência de importados no próprio mercado interno, em áreas como as de bens intermediários e máquinas.
As autoridades econômicas conhecem os problemas, mas hesitam em reconhecê-los. E têm visões nem sempre convergentes sobre as possíveis soluções. Revelado ontem pelo jornal "Valor Econômico", um documento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), que circula nos meios governamentais, é enfático quanto às ameaças em cena.
Tendo em vista a piora das contas externas, o texto chama a atenção para o que classifica de "reprimarização" da pauta de exportações do país -ou seja, o predomínio cada vez maior dos bens primários, como minérios e grãos, sobre os manufaturados.
O comércio externo de manufaturados, que apresentava saldo de US$ 4 bilhões, em 1992, registrou deficit de US$ 9,8 bilhões em 2007 -e ficou negativo em US$ 30,5 bilhões no primeiro semestre de 2010. Também nos primeiros seis meses deste ano a fatia de produtos industrializados no total exportado foi de 40,5%, contra 43,4% de bens básicos.
O estudo do ministério considera o aumento do deficit externo "fator de preocupação" e sugere que se adotem medidas para enfrentar o problema. A ênfase das recomendações recai, acertadamente, nos estímulos às exportações por meio de medidas como a redução de tributos, a simplificação de procedimentos burocráticos e políticas de incentivo à desvalorização do real.
Entra-se aqui na agenda do próximo governo. Vai-se formando, na esfera empresarial e também em áreas do setor público, um relativo consenso acerca das diretrizes que deveriam nortear o país nos próximos anos.
Trata-se, em linhas gerais, de contrair e racionalizar gastos para fazer o Estado caber no PIB, o que facilitaria a queda da taxa básica de juros, o aumento da capacidade de investimento público e o alívio da carga tributária. Reivindicam-se também, como no citado estudo, condições microeconômicas mais favoráveis, com a eliminação de entraves burocráticos ao desenvolvimento dos negócios. Espera-se, ainda, que o governo adote política industrial mais voltada para o fomento da inovação e dos setores de alta tecnologia.
Já é hora de se deixar de observar com resignação o atual padrão de crescimento, baseado em consumo, gastos governamentais, câmbio valorizado, pauta de exportação pouco diversificada e deficit crônico em conta corrente.


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