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Hora de mudar
Documento ministerial expõe riscos de desindustrialização, que precisam ser enfrentados pelo próximo governo com novas medidas econômicas
Têm sido frequentes os alertas
acerca dos riscos de a economia
brasileira experimentar um processo de desindustrialização. Embora encobertos pelos índices de
crescimento, há de fato sinais de
que a indústria vem perdendo posições -desde o recuo de sua participação no PIB e nas exportações
até as dificuldades crescentes para enfrentar a concorrência de importados no próprio mercado interno, em áreas como as de bens
intermediários e máquinas.
As autoridades econômicas conhecem os problemas, mas hesitam em reconhecê-los. E têm visões nem sempre convergentes
sobre as possíveis soluções. Revelado ontem pelo jornal "Valor Econômico", um documento do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(MDIC), que circula nos meios governamentais, é enfático quanto
às ameaças em cena.
Tendo em vista a piora das contas externas, o texto chama a atenção para o que classifica de "reprimarização" da pauta de exportações do país -ou seja, o predomínio cada vez maior dos bens primários, como minérios e grãos,
sobre os manufaturados.
O comércio externo de manufaturados, que apresentava saldo de
US$ 4 bilhões, em 1992, registrou
deficit de US$ 9,8 bilhões em 2007
-e ficou negativo em US$ 30,5 bilhões no primeiro semestre de
2010. Também nos primeiros seis
meses deste ano a fatia de produtos industrializados no total exportado foi de 40,5%, contra
43,4% de bens básicos.
O estudo do ministério considera o aumento do deficit externo
"fator de preocupação" e sugere
que se adotem medidas para enfrentar o problema. A ênfase das
recomendações recai, acertadamente, nos estímulos às exportações por meio de medidas como a
redução de tributos, a simplificação de procedimentos burocráticos e políticas de incentivo à desvalorização do real.
Entra-se aqui na agenda do próximo governo. Vai-se formando,
na esfera empresarial e também
em áreas do setor público, um relativo consenso acerca das diretrizes que deveriam nortear o país
nos próximos anos.
Trata-se, em linhas gerais, de
contrair e racionalizar gastos para
fazer o Estado caber no PIB, o que
facilitaria a queda da taxa básica
de juros, o aumento da capacidade de investimento público e o alívio da carga tributária. Reivindicam-se também, como no citado
estudo, condições microeconômicas mais favoráveis, com a eliminação de entraves burocráticos ao
desenvolvimento dos negócios.
Espera-se, ainda, que o governo
adote política industrial mais voltada para o fomento da inovação e
dos setores de alta tecnologia.
Já é hora de se deixar de observar com resignação o atual padrão
de crescimento, baseado em consumo, gastos governamentais,
câmbio valorizado, pauta de exportação pouco diversificada e deficit crônico em conta corrente.
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