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CLÓVIS ROSSI
Quércia e a pipoca
HONG KONG - Recebi e-mails de leitores indignados com o fato de Orestes Quércia estar liderando a intenção de voto para o governo de São
Paulo. Poucos, é verdade, mas, como
há dez horas de diferença entre São
Paulo e Hong Kong, devem chegar
mais quando estiver dormindo.
Indignação, cada um sente a sua e
tem todo o direito a ela. Mas surpresa
não deveria ser. Quércia é o mais típico político paulista, da linhagem que
vem de Adhemar de Barros, passa
por Jânio Quadros e continua com
Paulo Salim Maluf.
Populistas, "obreiristas" e sempre
cercados de acusações de corrupção,
embora Jânio tivesse adotado a vassoura como símbolo de seu suposto
combate a ela.
Mas era apenas para opor-se a
Adhemar, a quem se atribui a criação do "rouba, mas faz", que atravessou toda a segunda metade do século
passado e chegou ao século 21, vivo e
gozando de ótima saúde.
Se foram ou são ladrões, não sei. Sei
apenas que, salvo Maluf, e assim
mesmo só recentemente, não foram
presos nunca, embora Jânio e Adhemar tivessem sido cassados pela ditadura militar. Mas instrumentos ditatoriais não valem como elemento para julgar quem quer que seja.
No caso de Quércia, é forçoso supor
que a derrocada ética do PT deve ter
contribuído poderosamente para
reabilitá-lo. Se são todos farinha do
mesmo saco, como demonstrou o escândalo do "mensalão", por que
Quércia deveria ser mantido à distância dos cofres públicos? Deve ter
sido o raciocínio de mais de um.
Aliás, é eloqüente lembrar que,
quando Quércia atacou Lula, lá
atrás, por não ter gerido nada, nem
carrinho de pipoca, Lula respondeu
que ao menos não roubava a pipoca.
Depois, aliaram-se, a ponto de Quércia ter nomeado um afilhado político, Marcelo Barbieri, para a Casa Civil, aquela de José Dirceu.
Não demorou, brigaram de novo.
Na promiscuidade generalizada, não
sobrou ninguém com autoridade para falar de pipoca.
@ - crossi@uol.com.br
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