São Paulo, sábado, 17 de dezembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Quércia e a pipoca

HONG KONG - Recebi e-mails de leitores indignados com o fato de Orestes Quércia estar liderando a intenção de voto para o governo de São Paulo. Poucos, é verdade, mas, como há dez horas de diferença entre São Paulo e Hong Kong, devem chegar mais quando estiver dormindo.
Indignação, cada um sente a sua e tem todo o direito a ela. Mas surpresa não deveria ser. Quércia é o mais típico político paulista, da linhagem que vem de Adhemar de Barros, passa por Jânio Quadros e continua com Paulo Salim Maluf.
Populistas, "obreiristas" e sempre cercados de acusações de corrupção, embora Jânio tivesse adotado a vassoura como símbolo de seu suposto combate a ela.
Mas era apenas para opor-se a Adhemar, a quem se atribui a criação do "rouba, mas faz", que atravessou toda a segunda metade do século passado e chegou ao século 21, vivo e gozando de ótima saúde.
Se foram ou são ladrões, não sei. Sei apenas que, salvo Maluf, e assim mesmo só recentemente, não foram presos nunca, embora Jânio e Adhemar tivessem sido cassados pela ditadura militar. Mas instrumentos ditatoriais não valem como elemento para julgar quem quer que seja.
No caso de Quércia, é forçoso supor que a derrocada ética do PT deve ter contribuído poderosamente para reabilitá-lo. Se são todos farinha do mesmo saco, como demonstrou o escândalo do "mensalão", por que Quércia deveria ser mantido à distância dos cofres públicos? Deve ter sido o raciocínio de mais de um.
Aliás, é eloqüente lembrar que, quando Quércia atacou Lula, lá atrás, por não ter gerido nada, nem carrinho de pipoca, Lula respondeu que ao menos não roubava a pipoca. Depois, aliaram-se, a ponto de Quércia ter nomeado um afilhado político, Marcelo Barbieri, para a Casa Civil, aquela de José Dirceu.
Não demorou, brigaram de novo. Na promiscuidade generalizada, não sobrou ninguém com autoridade para falar de pipoca.

@ - crossi@uol.com.br


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