São Paulo, domingo, 17 de dezembro de 2006

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China mais aberta

Bancos estrangeiros poderão atuar no varejo do sistema financeiro chinês, ofertando serviços em moeda local

A CHINA deu mais um passo em seu longo processo de integração à economia internacional. Desde sexta, bancos estrangeiros foram autorizados a oferecer serviços -depósitos, empréstimos, investimentos, cartões de crédito- em yuans para pessoas físicas e jurídicas. As 103 instituições bancárias estrangeiras presentes na China tinham permissão para operar apenas em dólares e com empresas.
A nova medida adotada pela ditadura chinesa consolida a abertura do setor bancário chinês, negociada na Organização Mundial do Comércio. As instituições bancárias, no entanto, deverão cumprir uma série de exigências, tais como constituir-se como pessoa jurídica local, e não como meras filiais, com capital mínimo de US$ 125 milhões e fazer provisões de US$ 12,5 milhões para cada agência que quiserem abrir. As novas regras deverão fomentar a corrida pelo mercado financeiro chinês.
Considerados o dinamismo da economia -taxa média de crescimento em torno de 10% ao ano desde 1978- e o tamanho da população (1,3 bilhão de habitantes), o mercado bancário chinês é o mais atraente do mundo. O volume de depósitos soma US$ 4,3 trilhões, mais de quatro vezes o PIB brasileiro. O estoque de crédito atinge US$ 2,9 trilhões, ou 120% do PIB. No Brasil, a relação gira em torno de 33% do PIB.
A entrada de instituições estrangeiras foi permitida apenas depois de concluída uma ampla reestruturação do sistema bancário doméstico, sobretudo dos quatro grandes bancos públicos -bancos privados chineses são proibidos. O Banco da China, o Industrial e Comercial, o da Construção e o da Agricultura foram os principais agentes financeiros do desenvolvimento chinês, efetuaram grandes negócios, mas também tiveram enormes prejuízos.
Eles foram objeto de uma profunda reforma nos últimos anos, a fim de prepará-los para enfrentar a concorrência estrangeira. O programa incluiu a capitalização (de US$ 100 bilhões a US$ 280 bilhões, de acordo com as estimativas), a transferência de créditos de recuperação duvidosa para outras estatais, a abertura do capital e a entrada de sócios estrangeiros minoritários.
Três desses bancos já fizeram oferta pública de ações e passaram a ser listados nas Bolsas de Hong Kong e Xangai. Ao lançar ações no mercado, são forçados a enquadrar-se nas regras internacionais aplicáveis às companhias abertas, como sistemas transparentes de contabilidade e mecanismos de gestão de risco.
Configura-se, portanto, cada vez mais tentacular e agressiva a inserção chinesa na economia mundial. Diante de tamanha pujança da China, ressalta a carência absoluta de uma resposta estratégica do Brasil. Está equivocado o pressuposto que leva o governo Lula a tratar Pequim como se fosse um aliado preferencial nos negócios e na diplomacia.
China e Brasil, no filão nobre dos produtos industrializados, disputam o mesmo mercado. Manufaturados chineses invadem a América Latina e alguns segmentos do próprio mercado brasileiro. É hora de despertar.


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