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FERNANDO DE BARROS E SILVA
Fé do bilhão
SÃO PAULO - Enquanto a Igreja
Católica gasta o seu latim, dividida
em torno da greve de fome do bispo
do São Francisco, a Igreja Universal
do Reino de Deus trata de cuidar do
milagre da multiplicação -não dos
peixes, mas da fortuna alavancada
pelos dízimos de seu rebanho.
São 23 emissoras de TV, 40 rádios próprias e outras 36 arrendadas, dois jornais de grande circulação, duas gráficas, empresas de participações, uma agência de turismo,
uma imobiliária, uma seguradora
de saúde e -surpresa- até mesmo
uma empresa de táxi aéreo. Haja fé.
A ótima reportagem de Elvira Lobato publicada no sábado pela Folha revela uma rede diversificada
de negócios ligados à Universal, a
que não falta pelo menos uma conexão com o paraíso fiscal de Jersey,
aquele mesmo de Maluf.
A Rede Record, avaliada em R$ 2
bilhões, seria só o centro nervoso a
partir do qual Edir Macedo comanda um império em expansão. Lembre-se, ainda, que o PRB, de José
Alencar, é o braço institucional da
igreja, embora sua presença na política vá muito além desse partido.
Nem o céu parece ser o limite para os neobucaneiros da fé, cuja máxima é a de qualquer negociante de
sucesso: encontre (ou crie) uma necessidade e a satisfaça. Organização
empresarial, técnicas agressivas de
convencimento e mobilização,
idéia de felicidade associada à promessa de ascensão social e conquistas materiais -só por herança ainda chamamos isso de religião.
Ao contrário dos católicos, reféns
do juízo final, a Igreja Universal
propõe a salvação aqui e agora; ao
contrário das utopias de esquerda,
coletivistas, estimula a redenção do
indivíduo, só ele.
Uma igreja assim aderente ao espírito do capitalismo encontrou na
perdição das décadas perdidas de
80 e 90 terreno fértil para vicejar:
desemprego, tráfico de drogas, famílias despedaçadas e jovens sem
futuro nas periferias ofereceram o
palco ideal ao apelo neopentecostal. Como Silvio Santos, Edir Macedo explica muito do Brasil.
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