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No banco dos réus
"PODE UM REI que é submetido a julgamento ser
salvo? Ele está morto
tão logo apareça diante dos juízes." A frase é do revolucionário
francês Danton, que depois se
tornaria ele próprio um "rei" julgado, condenado e executado.
Não há dúvida de que o ex-presidente peruano Alberto Fujimori (1990-2000), que está sendo julgado por várias acusações,
incluindo assassinato, também
será condenado. A primeira sentença saiu na terça: seis anos por
ter ordenado uma busca ilegal.
É positivo que ex-chefes de Estado sejam levados à Justiça para
responder por crimes que tenham cometido. São fortes os indícios de que Fujimori envolveu-se em corrupção e tinha conhecimento das ações dos esquadrões
da morte que combatiam a guerrilha terrorista Sendero Luminoso, eliminado por seu governo.
Muitos peruanos são gratos a
Fujimori por essa façanha, tanto
que a sociedade está dividida
quanto ao julgamento. O Sendero, afinal, era uma chaga que por
anos impediu os peruanos de viver em paz. Pesquisa realizada
em outubro mostrou que Fujimori, apesar de ter sido obrigado
a abandonar a Presidência e fugir
para o Japão num mar de escândalos, é hoje mais popular do que
o atual presidente, Alan García.
Nos últimos anos, vários ex-ditadores foram a julgamento:
Saddam Hussein, do Iraque,
Charles Taylor, da Libéria, Slobodan Milosevic, da Sérvia. Há,
decerto, uma dose grande de hipocrisia nesse tema. Ditadores
alinhados às potências militares
-ou delas oriundos- continuam
imunes à Justiça. Além disso, os
tribunais de ex-tiranos que caíram em desgraça tendem a contaminar-se demais pela política.
Mas, no frigir dos ovos, é preferível que ditadores continuem a
ser levados a juízo. O viés contra
líderes depostos pode ser corrigido por Judiciários mais independentes e técnicos. Não há
melhor freio à tirania do que o
exemplo de um déspota condenado por suas malfeitorias.
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