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ELIANE CANTANHÊDE
"Desverticalização radical"
BRASÍLIA - Você aí consegue entender por que Lula se esfalfou e se
expôs ao máximo para salvar Sarney da guilhotina e agora dá uma
estocada no PMDB, deixando claro
que não gosta de Michel Temer para vice de Dilma?
A versão para a defesa incondicional de Sarney foi garantir o
PMDB em 2010, junto com o tempo
na TV e os palanques pemedebistas.
É justamente isso que Lula agora
parece -ou finge- desprezar, ao
roer o acordo e exigir lista tríplice
de nomes, em vez de acatar Temer.
Os caciques esperneiam, claro.
É blefe contra blefe, porque Lula
precisa do PMDB para carregar sua
candidata, assim como o PMDB
precisa de alternativas para se manter no poder. Mas blefes envolvem
riscos. O de Lula é sacudir as bases
pemedebistas insatisfeitas com
uma aliança forjada precocemente
nos palácios de Brasília -a um ano
da eleição, sem a segurança de que
Dilma seja capaz de vencer.
Sendo assim, Lula acaba de estimular o que pode ser chamado de
"desverticalização radical": o
PMDB do Congresso faz uma coisa,
os PMDBs regionais fazem o que
bem entenderem. Com a verticalização, criada em 2002 e jogada pela
janela das conveniências políticas,
os partidos eram obrigados a repetir em todos os níveis a aliança nacional. Agora, cada um por si.
Isso gera a expectativa de "palanques duplos" para Dilma nos Estados, mas é ficção. Na hora da campanha e do "vamos ver", os pemedebistas vão disputar a candidata a tapas com o PT. Ou se dividirem entre
Dilma e o candidato do PSDB.
PSDB, DEM e PPS estão a reboque na disputa pelo PMDB. No melhor cenário para eles, o PMDB do
Congresso perde a convenção, e o
partido fica livre, leve e solto. No
menos pior, fica com Dilma, mas liberando os principais Estados para
apoiar Serra. É o "liberou geral".
No fim, o PMDB se rearticula e
sobe a rampa com o vitorioso e
mergulha em ministérios e estatais.
É o que melhor sabe fazer.
elianec@uol.com.br
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