São Paulo, quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

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ELIANE CANTANHÊDE

"Desverticalização radical"

BRASÍLIA - Você aí consegue entender por que Lula se esfalfou e se expôs ao máximo para salvar Sarney da guilhotina e agora dá uma estocada no PMDB, deixando claro que não gosta de Michel Temer para vice de Dilma?
A versão para a defesa incondicional de Sarney foi garantir o PMDB em 2010, junto com o tempo na TV e os palanques pemedebistas.
É justamente isso que Lula agora parece -ou finge- desprezar, ao roer o acordo e exigir lista tríplice de nomes, em vez de acatar Temer.
Os caciques esperneiam, claro.
É blefe contra blefe, porque Lula precisa do PMDB para carregar sua candidata, assim como o PMDB precisa de alternativas para se manter no poder. Mas blefes envolvem riscos. O de Lula é sacudir as bases pemedebistas insatisfeitas com uma aliança forjada precocemente nos palácios de Brasília -a um ano da eleição, sem a segurança de que Dilma seja capaz de vencer.
Sendo assim, Lula acaba de estimular o que pode ser chamado de "desverticalização radical": o PMDB do Congresso faz uma coisa, os PMDBs regionais fazem o que bem entenderem. Com a verticalização, criada em 2002 e jogada pela janela das conveniências políticas, os partidos eram obrigados a repetir em todos os níveis a aliança nacional. Agora, cada um por si.
Isso gera a expectativa de "palanques duplos" para Dilma nos Estados, mas é ficção. Na hora da campanha e do "vamos ver", os pemedebistas vão disputar a candidata a tapas com o PT. Ou se dividirem entre Dilma e o candidato do PSDB.
PSDB, DEM e PPS estão a reboque na disputa pelo PMDB. No melhor cenário para eles, o PMDB do Congresso perde a convenção, e o partido fica livre, leve e solto. No menos pior, fica com Dilma, mas liberando os principais Estados para apoiar Serra. É o "liberou geral".
No fim, o PMDB se rearticula e sobe a rampa com o vitorioso e mergulha em ministérios e estatais.
É o que melhor sabe fazer.

elianec@uol.com.br


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