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CLÓVIS ROSSI
Mercado não é país
SÃO PAULO - Dois estudos muito
recentes mostram que a emergência do Brasil é muito mais do mercado brasileiro (setor financeiro,
empresas) do que do país propriamente dito.
O primeiro estudo, do Instituto
de Pesquisas Econômicas Aplicadas, intitulado "Presença do Estado
no Brasil", mostra imensas deficiências nas mais diferentes áreas
(www.ipea.gov.br/default.jsp).
Cito apenas um dado: só 157 municípios do país (2,8% do total) têm
estabelecimento público de ensino
superior. Desses, 23,6% se localizam em São Paulo, "o que demonstra grande concentração geográfica
das universidades públicas".
Resumo de Marcio Pochmann, o
presidente do Ipea: "Precisamos de
um esforço enorme do ponto de
vista de educação, saúde e cultura.
Há um descompasso muito grande
entre avanço econômico e a vida
urbana do século 21".
O segundo estudo é do Programa
das Nações Unidas para o Desenvolvimento, responsável pelo Índice de Desenvolvimento Humano.
Aliás, só o fato de o Brasil, oitava ou
nona economia do mundo, estar
em 75º lugar nesse índice já diz
muita coisa.
Mas o estudo, nos quatro países
do Mercosul, mede a porcentagem
de jovens em situação de privação
em quatro áreas: saúde e risco ambiental; acesso a educação; acesso a
recursos (rendimento e condições
de moradia) e exclusão social, num
total de oito indicadores.
Conclusão: 51,7% dos jovens brasileiros entre 15 e 19 anos apresentam pelo menos um tipo de privação dessas quatro. Chocante é o dado sobre educação: apenas 80% dos
jovens brasileiros de 15 a 29 anos
têm seis anos ou mais de estudo. Na
Argentina e no Uruguai, são 95%; e
até no desprezado Paraguai chegam a 89%.
É triste, mas mais triste é tentar
maquiar a realidade, como fazem
certos governistas.
crossi@uol.com.br
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