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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Professor esquecido é juventude fracassada
Nada pode ser mais catastrófico
para uma sociedade do que deixar de educar as crianças e os jovens.
No Brasil, estamos festejando o fato de
o país ter conseguido matricular todas
as crianças na rede escolar. Mas isso
não é suficiente. O importante é entrar
na escola, ficar nela e dela sair com
uma boa educação.
É triste verificar que, das 12.506 vagas que sobraram no vestibular das
universidades públicas em 2002, 6.641
foram na área da educação. Nas universidades particulares deu-se o mesmo.
A profissão de professor está em baixa. Os jovens brasileiros não querem
mais saber do magistério. E não é para
menos. Sua remuneração é ridícula. A
média salarial de um professor de nível médio é de R$ 866 por mês -com
uma enorme variação de região para
região do país, sabendo-se que, no
Norte e no Nordeste, não chega a R$
400. No ensino fundamental, há milhares de professores que ganham
apenas o salário mínimo -R$ 240-
ou até menos.
Ademais, as condições de trabalho,
na maioria das escolas, são simplesmente massacrantes. Além de longas
jornadas (muitos mestres chegam a
dar 60 aulas por semana!), o apoio didático é deficiente e as bibliotecas são
mal equipadas -tudo isso regado por
uma incontrolável indisciplina da
maioria dos adolescentes, que levam
para a sala de aula a generalizada confusão entre liberdade e liberalidade.
O problema da falta de docentes é
grave. Só na rede pública, há um déficit de 250 mil professores para lecionar na 5ª, 6ª, 7ª e 8ª séries do ensino
fundamental. No ensino médio, a escassez de professores de matemática,
de química e de física é assustadora.
As escolas não conseguem recrutá-los
porque os poucos formados procuram outras atividades e não querem
saber de ensinar. Eles foram vencidos
pela desilusão de educar neste pobre
país.
Tudo isso seria puro catastrofismo
se não houvesse solução. Mas há. No
campo da educação, as distorções falam mais alto do que a falta de recursos. É um absurdo que, até hoje, a
maior parte dos recursos vá para as
universidades públicas, onde uma
grande maioria de alunos bem aquinhoados e que frequentaram colégios
e cursinhos particulares caríssimos
goza, no ensino superior, do privilégio
de ali estudar sem nada pagar.
Na maioria dos países mais ricos do
mundo, as universidades públicas são
pagas, e bem pagas. Quem tem mais,
paga mais. Quem tem menos, paga
menos. Quem nada tem, recebe bolsa
de estudos.
Uma política desse tipo, no Brasil,
poderia canalizar para o ensino fundamental e médio uma grande quantidade de recursos para, com isso, remunerar melhor os professores, oferecer um bom apoio didático e equipar bem as bibliotecas. Sob tais condições, os jovens voltariam a se interessar pela educação e a preencher as vagas ociosas.
Isso precisa ser feito com urgência se
quisermos inverter o quadro atual e
garantir o professorado de amanhã.
Do contrário, condenaremos a juventude ao fracasso e a nação ao subdesenvolvimento.
Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.
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