|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANTONIO DELFIM NETTO
É 5%, senhor presidente
A grande discussão do momento
é se vamos crescer 4% (como disse que podemos o senhor Domingo de
Rato, diretor-gerente do FMI), se chegaremos a 5% (como afirma o ministro Palocci) ou se a apenas 3,5% (como sugere, há 36 semanas, o "Relatório de Mercado", do Banco Central).
O problema com tais "previsões" é
que o futuro não está "congelado" no
passado e "descongela-se" lentamente
como presente, de forma que "nada
pode ser feito a não ser apreciar o espetáculo". O ano de 2006 vai ser o que
tivermos a capacidade de fazer dele,
dentro das circunstâncias impostas
pela economia mundial. Já o de 2005
foi o resultado natural do nosso temor
de aproveitar a conjuntura externa favorável para manter o ritmo de crescimento que havíamos adquirido no final de 2004.
A queda no ritmo do desenvolvimento foi produzida por duas circunstâncias: 1º) a idéia equivocada de
que a taxa de crescimento potencial
do país é de 3,5% e 2º) a ambição de
reduzir em 2,5% a taxa de inflação (de
7,6% em 2004 para 5,1% em 2005). O
Banco Central tomou a nuvem (aumento de impostos) por Juno (pressão da demanda global) e fez o que
costumam fazer os seus parceiros ultraconservadores: elevou a taxa de juro real para dissipar a pressão do vapor da máquina...
O resultado só não foi pior porque a
expansão do comércio e o dinamismo
atingido por nossas exportações aliviaram a dependência externa construída na octaetéride fernandista. São
resultados importantes desse processo o saldo comercial da ordem de US$
44,5 bilhões e o saldo em conta corrente de US$ 15 bilhões (1,9% do PIB).
Mais significativa foi a dramática redução da dívida externa líquida, que
caiu de US$ 195 bilhões em 2002 (3,2
vezes as exportações) para US$ 127 bilhões em 2005 (praticamente um ano
de exportação). A dívida pública líqüida é hoje menos de 3% do PIB -um
quinto da que era em 2002. São esses
números que explicam a melhora do
risco Brasil, o sucesso dos lançamentos do Tesouro e parte da valorização
do dólar. A outra parte é explicada pela pequena importação, resultado da
"murcha" do crescimento e da arbitragem de juros que transformou o
real na "commodity" mais desejada
do mundo.
A situação hoje é outra. O Banco
Central já acredita em crescimento de
4% do PIB. Há um reconhecimento
geral de que ele abusou do conservadorismo a que se obriga todo Banco
Central. Os resultados do quarto trimestre são perturbadores e colocam
dúvidas até sobre o crescimento de
2,5% em 2005. Existe, portanto, um
espaço importante a uma redução ordenada e responsável da taxa de juro
real, com uma taxa Selic no final de
2006 da ordem de 11% ou 12% (juro
real de 7% mais uma expectativa de
inflação para 2007 da ordem de 3,5% a
4%). Muito longe, portanto, do "Relatório de Mercado", que ainda estima
15% para a taxa Selic em 31/12/06. Isso
nos deixaria com uma taxa de juro
real em dezembro da ordem de 11%,
com a qual podemos esquecer 2006...
O desenvolvimento é um estado de
espírito. Ele ocorre quando a liderança política é capaz de acender o "espírito animal" dos empresários e levá-los a acreditar no crescimento, o que
eleva o investimento e amplia a demanda global.
Se o presidente Lula quer mesmo
um crescimento de 5% para 2006, tem
de estimular o setor privado a fazê-lo.
O crescimento está anestesiado nos
temores do sistema financeiro e na
miopia do governo!
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br
Texto Anterior: Rio de Janeiro - Carlos Heitor Cony: Expressão de machismo Próximo Texto: Frases
Índice
|