São Paulo, quarta-feira, 18 de janeiro de 2006

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CARLOS HEITOR CONY

Expressão de machismo

RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamam que o cronista sempre começa seus textos dizendo que não entende de nada e que, apesar disso, de nada entender de nada, dá sempre um palpite na ilusão de que, no fundo, pretenda entender de alguma coisa.
Que seja. Insisto mais uma vez: como entender o espanto, a perplexidade, o estupor da mídia pelo fato de o Chile ter agora uma mulher na Presidência? Evidente que a sucessão presidencial em qualquer país, sobretudo no mesmo continente, é assunto importante, que merece manchete e comentários. Recentemente, tivemos o caso da Bolívia, aí, sim, houve algum espanto pelo fato de um descendente de índio (ou mesmo de um índio) ter chegado ao poder.
Mas uma mulher! Ao longo da história, tivemos vários e interessantes períodos governados por mulheres, algumas delas até deram nome e função a eras. Houve a Era da Rainha Vitória, na Inglaterra, a de Catarina da Rússia, a de Cleópatra, a de Isabel, na Espanha (ela mandava mais do que o marido-rei). Nos tempos modernos, tivemos a Dama de Ferro (Margareth Thatcher) e Golda Meir, sem esquecer as indianas e filipinas que ocuparam o poder, além de Isabelita Perón, que chegou aonde Eva Perón não conseguiu chegar, mas deu para o gasto em matéria de poder.
No momento, temos uma mulher à frente da Alemanha e outra à frente do Departamento de Estado na América do Norte -em si mesma, uma mulher mais poderosa do que a maioria dos chefes de governo do resto do mundo.
A perplexidade da mídia com a eleição de uma mulher para presidente do Chile tem um ranço machista. Afinal, ela não foi eleita por ser mulher. Não estou por dentro da política daquele país, mas presumo que sua eleição se deva às alianças feitas em torno de seu nome, de seu passado e da atual conjuntura econômica e social do Chile.
Um homem ou uma mulher seriam a mesma coisa desde que representassem a vontade de um povo soberano e livre.


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