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CARLOS HEITOR CONY
Expressão de machismo
RIO DE JANEIRO - Alguns leitores reclamam que o cronista sempre começa seus textos dizendo que não entende de nada e que, apesar disso, de nada entender de nada, dá sempre um
palpite na ilusão de que, no fundo,
pretenda entender de alguma coisa.
Que seja. Insisto mais uma vez: como entender o espanto, a perplexidade, o estupor da mídia pelo fato de o
Chile ter agora uma mulher na Presidência? Evidente que a sucessão presidencial em qualquer país, sobretudo no mesmo continente, é assunto
importante, que merece manchete e
comentários. Recentemente, tivemos
o caso da Bolívia, aí, sim, houve algum espanto pelo fato de um descendente de índio (ou mesmo de um índio) ter chegado ao poder.
Mas uma mulher! Ao longo da história, tivemos vários e interessantes
períodos governados por mulheres,
algumas delas até deram nome e função a eras. Houve a Era da Rainha
Vitória, na Inglaterra, a de Catarina
da Rússia, a de Cleópatra, a de Isabel,
na Espanha (ela mandava mais do
que o marido-rei). Nos tempos modernos, tivemos a Dama de Ferro
(Margareth Thatcher) e Golda Meir,
sem esquecer as indianas e filipinas
que ocuparam o poder, além de Isabelita Perón, que chegou aonde Eva
Perón não conseguiu chegar, mas
deu para o gasto em matéria de poder.
No momento, temos uma mulher à
frente da Alemanha e outra à frente
do Departamento de Estado na América do Norte -em si mesma, uma
mulher mais poderosa do que a
maioria dos chefes de governo do resto do mundo.
A perplexidade da mídia com a
eleição de uma mulher para presidente do Chile tem um ranço machista. Afinal, ela não foi eleita por ser
mulher. Não estou por dentro da política daquele país, mas presumo que
sua eleição se deva às alianças feitas
em torno de seu nome, de seu passado e da atual conjuntura econômica
e social do Chile.
Um homem ou uma mulher seriam
a mesma coisa desde que representassem a vontade de um povo soberano e livre.
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