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Editoriais
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Esconde-esconde
Sociedade perde quando candidatos, por mera conveniência eleitoral, silenciam sobre temas de interesse nacional
"IREMOS MEXER na taxa
de juros, no câmbio e
nas metas de inflação.
Essas variáveis continuarão a reger nossa economia,
mas terão pesos diferentes. Nós
não estamos de acordo com a taxa de juros que está aí, com o
câmbio que está aí. Estamos
criando empregos no exterior.
Os últimos resultados da balança
comercial são negativos. (...) Será
necessário fazer um rigoroso
ajuste das contas públicas. Hoje
o governo gasta muito -e mal."
São palavras do presidente do
PSDB, senador Sérgio Guerra
(PE), em recente entrevista à revista "Veja". É implausível que as
críticas à condução da economia
não tenham sido discutidas antes com o provável candidato tucano à sucessão presidencial, José Serra. Até porque o governador é um crítico assíduo dessa
política econômica.
A entrevista, porém, deflagrou
um mal-estar no tucanato, sobretudo naquele núcleo mais
próximo de Serra. Sérgio Guerra
teria, na avaliação interna, errado na dosagem da crítica, abrindo espaço para que a candidatura
tucana seja vista pelos agentes
econômicos como um risco à estabilidade. Numa inversão anedótica dos papéis desempenhados na campanha de 2002, Serra,
e não mais Lula, seria agora o
mensageiro da desordem.
Ora, se existe algum problema
de fundo nesse episódio, ele não
deriva das posições externadas
pelo presidente do PSDB, mas da
falta de clareza e da pouca disposição do virtual candidato quando se trata de submeter suas
ideias a escrutínio público.
É fácil perceber o jogo de esconde-esconde que envolve os
principais protagonistas da sucessão. Em parte, o comportamento esquivo, cauteloso e até
vacilante se explica pelas conveniências do calendário eleitoral,
pela preocupação de não antecipar embates inevitáveis.
Ocorre que, à luz dos interesses do esclarecimento da população e da própria vitalidade da democracia, trata-se justamente de
desalojar os postulantes ao cargo
mais alto da República de seus
respectivos castelos e convocá-los para o debate mais franco. Ou
ainda não seria a hora?
Ainda há pouco, o governo Lula fez esforço para eximir a Casa
Civil, comandada por Dilma
Rousseff, de suas responsabilidades sobre o texto do 3º Programa Nacional de Direitos Humanos. Após reformas em pontos
polêmicos do decreto, a crise
provocada pelo documento se
encaminha para um desfecho
sem que se saiba, ainda, o que
pensam a respeito da chamada
comissão da verdade nem a ministra -ex-militante de um grupo adepto da luta armada- nem
Serra, que se exilou em 1964.
Louve-se, nesse sentido, o
comportamento de Marina Silva, virtual candidata à Presidência pelo PV, que fez restrições à
atuação da Casa Civil e se posicionou favoravelmente à criação
da comissão para investigar violações de direitos humanos durante a ditadura. A senadora
acrescentou, ainda, que a eventual revisão da Lei da Anistia é algo que cabe ao Judiciário decidir.
Dos debates pontuais às questões de maior abrangência e relevância, é tempo de exigir maior
comprometimento público de
quem almeja presidir o país.
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