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FERNANDO DE BARROS E SILVA
O sapo e a inflação
SÃO PAULO - Cadê a inflação que
estava aqui? O sapo barbudo comeu. E cadê o sapo barbudo? Virou
príncipe. Da sociologia? Não, príncipe do ABC.
"Inflação de Lula é 37% menor
que a de FHC." O enunciado parece,
de fato, pertencer ao registro das fábulas. Mas é o título de uma reportagem da Folha na última quinta.
Com a divulgação da inflação medida pelo IPCA em 2009, o repórter
Marcio Aith mostrou que, nos anos
FHC, entre 1995 e 2002, o índice
médio ficou em 9,1%; entre 2003 e
2009, anos Lula, caiu para 5,7%.
Ninguém vai tirar de FHC o feito
histórico da vitória sobre a praga da
inflação. Mas o "príncipe da moeda", o pai do real e da estabilização
agora tem mais essa sombra: os
preços subiram significativamente
menos sob Lula. Não bastassem outros tantos indicadores, em torno
dos quais os petistas pretendem
sustentar a guerra eleitoral, conquista-se agora o coração simbólico
do tucanato, a sua "grande arte".
O curto-circuito é tanto mais insólito se lembrarmos que Lula e o
PT desdenharam do real em 94,
quando foram atropelados pela cavalaria tucana. E seguiram depois
como críticos incansáveis da política "neoliberal", a mesma que o governo petista viria a adotar com dedicação redobrada.
Deve-se isso ao conservadorismo
de Lula. Ou, mais exatamente, a seu
instinto de sobrevivência. Lula teve
a convicção ou a intuição muito arraigada de que a ortodoxia seria "a"
condição "sine qua non" para permanecer no poder. Sem ajoelhar e
dizer amém ao mercado, o resto
ruiria como um castelo de cartas.
Sim, a política de juros pode ser
criminosa, mas o que o povão vê e
percebe é a inflação no chão.
Exceção feita talvez a Gilberto
Carvalho (o assessor para assuntos
aleatórios), no primeiro escalão só
o presidente do BC, Henrique Meirelles, permanece onde estava desde o início. Muitos caíram, outros
encolheram, alguns surgiram, mas
todos mudaram -menos Meirelles,
o banqueiro de alma demo-tucana.
Isso talvez explique muita coisa.
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