São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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FERNANDO DE BARROS E SILVA

O sapo e a inflação

SÃO PAULO - Cadê a inflação que estava aqui? O sapo barbudo comeu. E cadê o sapo barbudo? Virou príncipe. Da sociologia? Não, príncipe do ABC.
"Inflação de Lula é 37% menor que a de FHC." O enunciado parece, de fato, pertencer ao registro das fábulas. Mas é o título de uma reportagem da Folha na última quinta.
Com a divulgação da inflação medida pelo IPCA em 2009, o repórter Marcio Aith mostrou que, nos anos FHC, entre 1995 e 2002, o índice médio ficou em 9,1%; entre 2003 e 2009, anos Lula, caiu para 5,7%.
Ninguém vai tirar de FHC o feito histórico da vitória sobre a praga da inflação. Mas o "príncipe da moeda", o pai do real e da estabilização agora tem mais essa sombra: os preços subiram significativamente menos sob Lula. Não bastassem outros tantos indicadores, em torno dos quais os petistas pretendem sustentar a guerra eleitoral, conquista-se agora o coração simbólico do tucanato, a sua "grande arte".
O curto-circuito é tanto mais insólito se lembrarmos que Lula e o PT desdenharam do real em 94, quando foram atropelados pela cavalaria tucana. E seguiram depois como críticos incansáveis da política "neoliberal", a mesma que o governo petista viria a adotar com dedicação redobrada.
Deve-se isso ao conservadorismo de Lula. Ou, mais exatamente, a seu instinto de sobrevivência. Lula teve a convicção ou a intuição muito arraigada de que a ortodoxia seria "a" condição "sine qua non" para permanecer no poder. Sem ajoelhar e dizer amém ao mercado, o resto ruiria como um castelo de cartas.
Sim, a política de juros pode ser criminosa, mas o que o povão vê e percebe é a inflação no chão.
Exceção feita talvez a Gilberto Carvalho (o assessor para assuntos aleatórios), no primeiro escalão só o presidente do BC, Henrique Meirelles, permanece onde estava desde o início. Muitos caíram, outros encolheram, alguns surgiram, mas todos mudaram -menos Meirelles, o banqueiro de alma demo-tucana. Isso talvez explique muita coisa.


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